Especial COP30 – Crédito de carbono no agro: oportunidades e desafios dos investimentos verdes em 2025

por Jayme Vasconcellos*

O alinhamento do agronegócio brasileiro com a pauta ESG não é mais uma opção, mas uma condição de mercado, e os investimentos verdes se tornaram o principal termômetro dessa transformação. No centro das discussões financeiras está o mercado de crédito de carbono, que em 2025 ganhou força com a regulamentação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).

O crédito de carbono surge como o instrumento econômico mais tangível para monetizar a sustentabilidade. Práticas como o Plantio Direto, a conservação de Reservas Legais e o manejo regenerativo de pastagens se tornam elegíveis para gerar valor financeiro, proporcionando uma nova fonte de receita adicional para o produtor. “A regulamentação posiciona o Brasil como um mercado confiável, mas exige um esforço significativo das empresas para cumprir as normas”, alertou recentemente Jeronimo Roveda, diretor de Relações Internacionais da Carbonext.

A expectativa é que o financiamento verde — que inclui linhas do Plano Safra e fundos privados focados em impacto — continue crescendo, priorizando quem adota modelos sustentáveis. A realização da COP30 na Amazônia, um símbolo global, deve catalisar a atração de capital estrangeiro para projetos baseados em soluções naturais (Nature-based Solutions), reforçando o Brasil não apenas como um fornecedor de alimentos, mas como um agente de transformação ambiental e social.

Foto: Atlantic Ambience / Pexels.com

A necessidade de capital é imensa. Apenas para cumprir as metas de descarbonização do setor até 2050, estudos indicam que o custo pode chegar a US$ 170 bilhões, um valor que transcende a capacidade de investimento público. Isso solidifica a urgência em atrair o capital privado global e em desenvolver novos instrumentos financeiros, como os títulos verdes (Green Bonds) focados especificamente em projetos agropecuários de baixa emissão. O desafio é mitigar os riscos e garantir a governança necessária para que esses fluxos de capital sejam estáveis e previsíveis.

Outro ponto crucial é a correlação entre os investimentos e a rastreabilidade da cadeia produtiva. Com a entrada em vigor de legislações como o regulamento antidesmatamento da União Europeia, todo o investimento feito em terras brasileiras precisa estar atrelado à comprovação da origem e da conformidade socioambiental. Assim, o financiamento verde não é apenas sobre dinheiro, mas sobre o uso de tecnologia e blockchain para assegurar a transparência total do grão à mesa, consolidando a credibilidade do agro brasileiro nos mercados internacionais mais exigentes.

*Jornalista, radialista e técnico em Agronegócio. Especialista em Liderança e Desenvolvimento de Equipes, é editor-chefe do Agricultura e Negócios e autor de livros sobre liderança e criatividade.

Especial COP30 – Descarbonização: como o agro transforma emissões em oportunidades financeiras

por Jayme Vasconcellos*

A agenda climática global tem um custo, mas para o agronegócio brasileiro, ela representa, acima de tudo, uma nova fonte de valor. A necessidade de descarbonizar o campo está se convertendo em um motor de inovação e atração de investimentos verdes, redefinindo o conceito de sustentabilidade como um ativo econômico.

Um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estimou que a adoção de práticas sustentáveis no agro – como biocombustíveis, bioinsumos, Plantio Direto e terminação intensiva de gado – pode adicionar até R$ 94,8 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro até o final desta década. Essa projeção demonstra que a sustentabilidade é um vetor de crescimento, e não um obstáculo, transformando o risco climático em vantagem competitiva.

A chave está na valoração do esforço produtivo. Conforme mencionado por especialistas do setor, ao precificar oficialmente as emissões e reconhecer o sequestro de carbono no campo, o agronegócio passa a capturar valor financeiro por práticas já adotadas. O Plano Safra 2024/2025, ao destinar um volume robusto de recursos com incentivos à sustentabilidade, já sinaliza a prioridade do governo em financiar essa transição. A mensagem é de impacto duplo, como resume a fala de um executivo do setor: “É dinheiro no bolso do produtor, é um faturamento maior e mais arrecadação”.

Foto: Wolfgang Weiser / Pexels.com

A concretização dessas oportunidades, no entanto, depende de um esforço conjunto para superar o gargalo do financiamento. Embora o Plano Safra seja essencial, especialistas apontam que ele só aporta cerca de 40% dos recursos anuais necessários para a ampla descarbonização da agropecuária. É fundamental, portanto, que o setor privado e o capital internacional preencham essa lacuna, aproveitando a segurança regulatória que está sendo estabelecida, especialmente com o avanço do mercado de carbono. A escala do agronegócio brasileiro exige que se crie um ambiente propício para que a infraestrutura financeira acompanhe o ritmo da inovação tecnológica no campo.

Além do financiamento, a questão da certificação e da rastreabilidade ganha peso. As novas regulamentações internacionais, como a legislação antidesmatamento da União Europeia, transformam a origem da produção em um diferencial de mercado. O produtor que conseguir provar a adoção de boas práticas, aliada ao desmatamento zero, terá acesso facilitado a mercados premium e a linhas de crédito verde com taxas mais atrativas. Assim, a agenda de descarbonização força o Brasil a elevar seus padrões de transparência e governança, garantindo o protagonismo global não apenas em volume, mas também em qualidade socioambiental.

*Jornalista, radialista e técnico em Agronegócio. Especialista em Liderança e Desenvolvimento de Equipes, é editor-chefe do Agricultura e Negócios e autor de livros sobre liderança e criatividade.