Banco Master: o que acontece com o dinheiro dos clientes e como agir para não ficar no prejuízo

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central, acende um alerta imediato para correntistas e investidores pessoa física. Na prática, o banco deixa de operar e um liquidante assume o controle para encerrar as atividades, vender bens e pagar os credores na ordem prevista em lei. “Os recursos ficam imediatamente congelados. O liquidante, nomeado pelo Banco Central, vai identificar quanto cada cliente tem a receber”, explica o advogado Stefano Ribeiro Ferri, especialista em Direito do Consumidor.

Segundo o advogado, o primeiro ponto é entender que, a partir da liquidação, correntistas e investidores passam a ser credores do banco. “O impacto é direto: contas, depósitos e investimentos emitidos pelo próprio banco são afetados. Correntistas e investidores viram credores”, afirma.

Quem tem produtos simples, como CDBs emitidos pelo próprio Banco Master, tende a estar mais protegido. “Quem tem produtos simples, como CDB, geralmente está coberto pelo FGC; quem tem produtos mais complexos pode enfrentar risco maior e depende do resultado da liquidação”, alerta Ferri, lembrando que a situação de cada cliente será detalhada na lista de credores que será preparada pelo liquidante.

A principal rede de proteção para a pessoa física é o Fundo Garantidor de Créditos (FGC). “Para a maior parte das pessoas físicas, a primeira linha de proteção é o FGC, que cobre até R$ 250 mil por CPF”, diz o advogado. Estão dentro dessa garantia contas, depósitos, poupança, CDB, LCI e LCA, sempre até o limite de R$ 250 mil por CPF por instituição. “O que estiver dentro desse limite tende a ser pago. O que ultrapassar entra na fila da liquidação”, resume. Ficam de fora fundos de investimento, produtos estruturados, valores acima desse limite e qualquer aplicação que não seja elegível à garantia do FGC.

Foto: Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

Para quem tem investimentos, o caminho depende do tipo de produto e do valor aplicado. “Se o produto for coberto pelo FGC, o cliente só precisa aguardar a liberação da lista de credores e seguir as orientações do próprio Fundo para receber”, orienta Ferri. Já quem tem valores acima do limite de garantia passa a ser credor da massa liquidada. “Nesse caso, deve acompanhar o edital do liquidante e registrar seu crédito para tentar recuperar a diferença”. A recomendação é reunir desde já extratos, comprovantes de aplicação e contratos para facilitar o reconhecimento do crédito e evitar atrasos ou divergências no valor devido.

Os prazos também variam conforme o tipo de proteção. “O FGC costuma pagar rapidamente depois de receber a lista de credores, em alguns casos, semanas. Já a liquidação pode levar meses ou anos, porque depende da venda dos ativos do banco. Não existe prazo exato para quem está fora da garantia”, afirma o especialista. Enquanto aguarda, o consumidor deve acompanhar os comunicados oficiais do Banco Central, do liquidante e do próprio FGC, canais como site, comunicados públicos e contato com o agente responsável pela liquidação são as fontes confiáveis de informação, evitando boatos e golpes usando o caso do Banco Master como isca.

Ferri reforça que não há garantia de recuperação integral para todos. “Sim, há risco, especialmente para quem tem valores acima do limite do FGC ou produtos sem garantia”, destaca. Nesses casos, o caminho judicial pode ser necessário em situações específicas. “O Judiciário deve ser acionado quando o cliente não tiver seu crédito reconhecido, quando houver indícios de fraude, ou quando a liquidação se mostrar ineficiente. Em alguns casos, ações individuais ou coletivas podem ser o único caminho para recuperar parte das perdas”.

FIDC Agro: mais de R$ 1 trilhão para financiar produção

O crédito rural no Brasil ainda é marcado por fortes contrastes. De um lado, o Plano Safra 2025/2026 prevê um volume recorde de R$ 516,2 bilhões. De outro, apenas uma parcela desse montante está realmente disponível em condições vantajosas para o produtor. Menos de um quarto dos recursos, aproximadamente R$ 113,8 bilhões, conta com juros subsidiados. O restante segue regras de mercado, com burocracia e exigências que atrasam a liberação e muitas vezes não acompanham o ritmo da produção. Nesse contexto, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) avançam como alternativa mais ágil e alinhada às necessidades do campo, movimentando R$ 630 bilhões em maio e com previsão de superar R$ 1 trilhão até 2027.

Os FIDCs têm se destacado no agronegócio por oferecerem soluções rápidas e estruturadas para diferentes necessidades, como custeio da safra, capital de giro e investimentos. Diferentemente das linhas públicas, frequentemente limitadas ou demoradas, esses fundos funcionam com operações desenhadas caso a caso, utilizando instrumentos como a Cédula de Produto Rural e garantias reais, entre elas o penhor de safra e a alienação fiduciária de imóveis. Além disso, contam com suporte técnico especializado ao longo de todo o processo de concessão. “O produtor não pode mais depender de um crédito que chega atrasado ou em volume insuficiente. O melhor recurso é aquele que atende à necessidade do negócio no tempo certo”, afirma Gustavo Assis, CEO da Asset Bank.

A versatilidade dos fundos também os torna instrumentos eficazes para atender toda a cadeia do agronegócio. O mesmo fundo pode contemplar um pequeno produtor, um grupo agroindustrial e até fornecedores de insumos, conectando as pontas de forma estratégica. Essa abrangência permite, por exemplo, integrar produtores de cana e usinas consumidoras de biomassa em uma mesma estrutura de recebíveis, o que reduz significativamente o risco de inadimplência.

Foto: Tima Miroshnichenko / Pexels.com

Para o investidor, essa composição representa uma carteira pulverizada, com exposição a múltiplas culturas, regiões e perfis de tomadores, além de proteção adicional por meio das cotas subordinadas e garantias reais. O avanço dos FIDCs no agro acompanha o movimento de profissionalização que o setor vem vivendo nos últimos anos. Com a transição geracional, muitos grupos familiares passaram a incorporar práticas de gestão mais estruturadas, buscar proteção patrimonial e avaliar com mais critério o custo de capital. O crédito deixou de ser apenas uma necessidade pontual e passou a ser encarado como um componente estratégico do negócio. “Hoje conseguimos oferecer crédito sob medida, com análise técnica feita em campo e liberação no momento certo da safra. Isso muda completamente a dinâmica de quem está na ponta, produzindo”, explica Assis.

Ao conectar o campo ao mercado de capitais, os FIDCs ajudam a romper a dependência histórica do crédito subsidiado e impulsionam a autonomia financeira do setor. Mais do que uma simples alternativa ao financiamento tradicional, esses fundos representam uma mudança de paradigma na forma como o agro acessa e administra recursos. Em vez de esperar por liberações estatais com prazos indefinidos, o produtor passa a operar com previsibilidade, estratégia e estrutura compatível com sua realidade produtiva.

Em um país onde o agronegócio responde por cerca de 25% do PIB e movimenta cadeias produtivas que vão do alimento à energia, destravar o acesso ao capital de forma inteligente é mais do que uma conveniência, é uma questão de competitividade nacional. Fora da Faria Lima, os FIDCs já são protagonistas de uma nova fronteira do financiamento rural, aproximando o investidor do campo e criando pontes sustentáveis entre crédito e produtividade.

Governo libera R$ 12 bilhões para produtores rurais afetados por tragédias climáticas

Em uma medida que promete dar fôlego ao campo, o Governo Federal anunciou a liberação de R$ 12 bilhões em crédito para produtores rurais pequenos, médios e grandes, que tiveram suas lavouras prejudicadas por tragédias climáticas nos últimos anos. O programa deve alcançar cerca de 100 mil agricultores, incluindo 96% dos pequenos e médios produtores com dívidas em atraso ou renegociadas.

A iniciativa busca evitar o abandono do campo e garantir a continuidade da produção, especialmente em um contexto de mudanças climáticas cada vez mais frequentes e severas.

Como funciona a linha de crédito

O pacote prevê diferentes condições de acordo com o porte do produtor:

  • Agricultura familiar (Pronaf): até R$ 250 mil, com juros de 6% ao ano
  • Médios produtores (Pronamp): até R$ 1,5 milhão, com juros de até 8% ao ano
  • Demais produtores: até R$ 3 milhões, com juros de até 10% ao ano
  • Acima de R$ 3 milhões: condições definidas pelas instituições financeiras, considerando fluxo de caixa debilitado

Além disso, o crédito terá carência de um ano e prazo de pagamento de até oito anos, incluindo a possibilidade de quitar dívidas em atraso e Cédulas de Produto Rural (CPR) registradas até junho de 2024.

Impacto das tragédias climáticas

O programa vem em resposta a eventos extremos que abalaram o setor, como as enchentes no Rio Grande do Sul em maio de 2024, consideradas a maior catástrofe climática do estado, com perdas bilionárias na agricultura e pecuária. Para especialistas, essas medidas não são apenas emergenciais, mas estratégicas, garantindo que os produtores continuem investindo e produzindo mesmo diante de riscos crescentes.

Gustavo Zanon, CEO da Seguralta, avalia a iniciativa como fundamental não só para dar fôlego imediato, mas também para reforçar a importância da proteção no campo. “O acesso ao crédito garante que o produtor mantenha sua atividade no campo, reorganize suas contas e preserve sua renda, mesmo em momentos de dificuldade. É uma forma de dar fôlego imediato e condições reais para que a produção continue ativa”, afirma.

O que representa para o setor

O pacote representa um alívio financeiro imediato, evita que produtores abandonem o campo e garante continuidade produtiva, mantendo empregos e segurança alimentar. Para o setor, é também uma oportunidade de modernização e planejamento estratégico, estimulando investimentos em tecnologias e práticas mais sustentáveis. “Quando o produtor tem acesso a crédito estruturado e condições reais de pagamento, ele planeja, investe e protege sua produção. Isso garante continuidade no campo e fortalece toda a cadeia do agronegócio”, conclui Gustavo Zanon.