Existem caminhos jurídicos para amenizar o impacto das tarifas norte-americanas no agro brasileiro?

por Cybelle Guedes Campos e Odair de Moraes Junior*

A elevação de tarifas de 10% para 50% sobre uma série de produtos brasileiros exportados ao mercado norte-americano terá efeitos sentidos em diversos setores econômicos. No segmento agrícola, ela impacta diretamente cadeias produtivas como café, suco de laranja, carne bovina e frutas frescas, o que deve gerar consequências econômico-financeiras ao longo dos próximos meses.

Ainda que a medida tarifária não configure, por si só, um evento de força maior contratual, seus efeitos sobre a capacidade de geração de caixa das empresas já são perceptíveis. Segundo dados da SERASA, o número de pedidos de Recuperação Judicial no agronegócio é de cerca de 400 somente no primeiro trimestre de 2025, refletindo um aumento de 21,5% em relação ao último trimestre do ano anterior. A entrada em vigor do novo pacote tarifário tende a acentuar esse movimento, sobretudo entre produtores altamente dependentes do mercado externo.

Nesse contexto, a jurisprudência brasileira admite a ocorrência de eventos externos e imprevisíveis — como desdobramentos geopolíticos e alterações abruptas em políticas comerciais internacionais — como fatores relevantes na caracterização de crise econômico-financeira apta a justificar o ajuizamento de pedidos de Recuperação Judicial, desde que devidamente comprovada a perda de capacidade de adimplemento em decorrência de tais fatores, e não por má gestão.

Foto: Tima Miroshnichenko / Pexels.com

O chamado “tarifaço” norte-americano configura uma situação típica de risco geoeconômico e deve ser analisado com cautela por empresas exportadoras, instituições financeiras e assessores jurídicos. A adoção de medidas extrajudiciais preventivas, como a renegociação com credores, a revisão de projeções de receita e a elaboração de planos de contingência, é recomendada como forma de mitigar os impactos antes que se materializem situações de insolvência.

A eventual inadimplência generalizada poderá ainda ensejar o acionamento de cláusulas de vencimento antecipado (“default”) em contratos de financiamento atrelados ao desempenho de exportações, o que exige atenção especial aos pactos financeiros em curso.

Mais do que reativa, a postura neste momento deve ser proativa. A preparação jurídica, financeira e estratégica para a reestruturação pode ser decisiva para garantir a continuidade das operações, a preservação da função social da empresa e a manutenção de empregos. Em tempos de volatilidade global, a Recuperação Judicial deve ser compreendida como um instrumento legítimo de reorganização empresarial e proteção da atividade econômica.

*Advogados e sócios do Moraes Junior Advogados.

EUA x Brasil: mesmo com isenções, aplicação da tarifa de 50% pode causar impacto bilionário ao comércio bilateral

A Ordem Executiva assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevando o valor da tarifa de importação de produtos brasileiros para 50%, traz 694 exceções, como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus motores, peças e componentes. Também ficaram de fora do tarifaço produtos como polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos.

No entanto, café, frutas e carnes não estão entre as exceções aplicadas pelos Estados Unidos e serão taxados em 50%.

Segundo o documento, as taxas entram em vigor em sete dias, ou seja, dia 6 de agosto. Mercadorias que estão em trânsito para os Estados Unidos também ficarão de fora da taxação. A ordem justifica que os Estados Unidos consideram o Brasil uma ameaça “incomum e extraordinária à segurança nacional dos EUA”. A classificação é semelhante à adotada contra países considerados hostis à Washington, como Cuba, Venezuela e Irã.

Próximas medidas

No documento, Trump diz que a lista de exceções pode ser alterada caso o Brasil “tome medidas significativas para lidar com a emergência nacional e se alinhe suficientemente com os Estados Unidos em questões de segurança nacional, economia e política externa”.

O presidente americano também ameaça aumentar as alíquotas se o governo brasileiro tomar medidas de retaliação contra os Estados Unidos. “Por exemplo, se o governo do Brasil retaliar aumentando as tarifas sobre as exportações dos Estados Unidos, aumentarei a alíquota ad valorem estabelecida nesta ordem em um montante correspondente”.

– Confira aqui a lista de produtos que não serão taxados

Amcham Brasil

A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) calculou que a lista de exceções da tarifa de importação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos corresponde a 43,4% do total de US$ 42,3 bilhões comercializados entre os dois países. Com isso, cerca de US$ 18,4 bilhões em exportações brasileiras ficam de fora do tarifaço imposto pelo presidente norte-americano, Donald Trump.

“Embora essas exceções atenuem parcialmente os efeitos da tarifa de 50% anunciada, a Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira. Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor”, destacou a entidade, em nota.

Entre os produtos fora do tarifaço que mais causam impacto em valor exportado estão combustíveis, abrangendo 76 produtos, com US$ 8,5 bilhões exportados no ano passado. Em seguida, aparecem aeronaves, abrangendo 22 produtos, que somaram mais de US$ 2 bilhões em vendas aos norte-americanos em 2024. Ferro e aço, com exportação de US$ 1,8 bilhão, e pastas de madeira (celulose), com US$ 1,7 bilhão, também são destaque na lista de exceções.

Foto: Zlau0165u00e1ky.cz / Pexels.com

ABIA

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (ABIA) considera que a lista de isenções da tarifa adicional imposta pelos Estados Unidos é uma medida limitada, que poderá causar forte impacto nas exportações de produtos que desempenham papel vital na segurança alimentar e na estabilidade dos preços no próprio país importador. A imposição de altas tarifas a categorias-chave, como carnes, cafés e óleos vegetais, reflete uma assimetria que prejudica a previsibilidade do comércio bilateral e gera distorções nas cadeias de valor.

Fora da lista, o suco de laranja, com quase US$ 750 milhões exportados no primeiro semestre de 2025, foi – segundo a entidade – corretamente isento da tarifa adicional, reconhecendo a especialização brasileira e sua importância estratégica para os EUA. Por outro lado, o alto grau de dependência do mercado americano pelas carnes bovinas brasileiras, que ultrapassaram US$ 1 bilhão em exportações no mesmo período, não foi determinante para a isenção a essa categoria, o que poderá causar impactos profundos não apenas sobre os exportadores brasileiros, mas também sobre a competitividade e a estabilidade de preços no mercado norte-americano. A aplicação da tarifa de 50% aos alimentos industrializados que ficaram de fora da lista poderá representar um impacto potencial bilionário ao comércio bilateral. A título de exercício, com base nas exportações brasileiras aos EUA de US$ 2,83 bilhões no primeiro semestre de 2025, uma retração hipotética de 10% no volume de exportações do Brasil para os EUA resultaria em perdas de até US$ 570 milhões anuais em receitas externas. Como consequência, os postos de trabalho ao longo da cadeia produtiva também seriam impactados.

– com informações da Agência Brasil

Study reveals ways to boost livestock productivity without clearing new land

by Embrapa Digital Agriculture

To feed a growing global population without expanding into new areas of native vegetation, it is essential to improve the performance of established agricultural systems. In pasture-based livestock farming, a promising solution is to reduce yield gaps, which, according to specialists, is the difference between what a rural property produces currently and what it could produce under ideal conditions.

An international study involving Embrapa researchers that was recently published in the scientific journal Agricultural Systems analyzed the main tools to measure these gaps. It also proposed more precise ways to estimate the productive potential of livestock systems. The goal is to guide farmers, technicians, and public policy makers to invest more strategically, increasing efficiency and reducing environmental impacts.

Scientists warn that current models limit the precision of analyses because they often ignore variables like grazing strategies, pasture composition, and selective grazing by animals. Integrating these aspects, however, could contribute to more efficient resource use and sustainable production intensification, without expanding into new land.

Pastures comprise 70% of the world agricultural land

Covering about 70% of the world’s agricultural land, pastures are crucial for food security and provide vital ecosystem services. As global demand for meat and milk grows annually, the study reinforces the importance of improving existing production systems instead of converting new land for livestock farming.

To advance the sustainable intensification of pasture-based livestock farming, researchers suggest future investigations consider not only technical factors, but also socioeconomic and political contexts. This comprehensive approach can be supported by yield gap analysis, which will enable producers and policymakers to make more efficient and sustainable investments.

Framework

Various methods were discussed, including benchmarking, climate clustering, frontier analysis, and production system models. Each approach differs in its scale of analysis, data requirements, and specific applications. According to Patrícia Menezes Santos, a researcher at Embrapa Southeastern Livestock, some methodologies are suitable for larger scales, like global or national studies, while others apply more locally, such as for farms.

Furthermore, some methods consider socioeconomic factors, while others focus on biophysical aspects. “These tools identify the highest potential areas for increasing productivity,” Santos points out. “In other words, they highlight the most promising areas to strategically direct efforts and investments.”

The researcher emphasizes the importance of these methodologies to enable public managers to better direct their efforts, such as technical and infrastructure assistance. She believes that transformation does not depend solely on the producer; it requires a coordinated work to build a truly favorable environment.

Incentives in Brazil remain low

The study emphasizes benchmarking, a widely adopted method that involves comparing the performance of top-producing farms or regions with others. It is a simple method with commercial applicability; however, it does not account for inputs or economic variables.

The frontier analysis method, applicable across various production scales, examines technical and economic efficiency using statistical and econometric models.

Geraldo Martha, a researcher at Embrapa Digital Agriculture, notes that analyses from the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) indicate that to truly understand the transformations occurring in the real world of Brazilian agriculture, particularly its livestock sector — which operates with low incentive levels — this perspective, bringing together biophysical and economic dimensions, is highly important.

According to Martha, this is because a farmer’s decisions involve opportunity costs and risks that are unique to each producer-property combination. This singularity arises because the quantity and quality of resources (land, labor, physical and human capital), inputs, and relative prices differ in each specific instance.

The climate clustering method prioritizes the technical potential for increasing productivity, focusing on factors like climate and type of production system, without considering management, nutrition, or grazing strategies. This method is suitable for broader-scale application and evaluates the adoption of successful management practices across regions with similar climates. Although it relies on large-scale databases, the method is flexible and can incorporate regional characteristics or other variables to provide insight into regions with high potential for production system intensification.

Production system models encompass two main approaches: those that consider pasture carrying capacity, analyzing primary pasture productivity and grazing efficiency, and models based on production ecology concepts, which account for the biophysical processes of animals and pastures over time.

Foto: Gisele Rosso

Pesquisa destaca o Plano de Marketing como pilar para o sucesso de pequenos negócios

Uma pesquisa científica acaba de lançar luz sobre um tema crucial para o desenvolvimento de micro e pequenos empreendedores (MPEs): a elaboração de um plano de marketing eficaz. O artigo, intitulado “Inovação e empreendedorismo: a importância do plano de marketing para micro e pequenos empreendedores“, explora como o planejamento estratégico de marketing pode ser um diferencial competitivo significativo para negócios de menor porte.

A publicação detalha os benefícios de um plano de marketing bem estruturado, desde a identificação clara do público-alvo e da concorrência até a definição de estratégias de comunicação e vendas mais assertivas. O estudo também aborda a importância de monitorar os resultados e adaptar o plano conforme as mudanças do mercado.

Um dos autores do artigo, o jornalista e especialista em comunicação e marketing, Jayme Vasconcellos, enfatiza a relevância da pesquisa para a realidade dos MPEs. “Muitos micro e pequenos empreendedores focam na operação do dia a dia e acabam negligenciando o planejamento de marketing. Nosso artigo busca mostrar que, mesmo com recursos limitados, um plano bem pensado pode abrir portas e gerar resultados significativos. Como costumo dizer, ‘quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve’, e no mundo dos negócios, essa falta de direção pode ser fatal”.

Plano de marketing

A importância do plano de marketing para MPEs é multifacetada. Ele auxilia na definição da proposta de valor única do negócio, na escolha dos canais de comunicação mais adequados para alcançar os clientes, na construção de um relacionamento duradouro com o público e, fundamentalmente, na otimização dos investimentos em marketing, evitando gastos desnecessários e direcionando recursos para ações que realmente trazem retorno.

Estudo ressalta a importância do plano de marketing para o crescimento e a sustentabilidade dos negócios (Foto: Gemini / IA)

Para a especialista em pequenas empresas, Ana Paula Ferreira, os achados do artigo são extremamente relevantes. “O plano de marketing não é um luxo para grandes corporações, mas sim uma ferramenta essencial para a sobrevivência e o crescimento dos pequenos negócios. Ele permite que o empreendedor entenda melhor o seu mercado, se posicione de forma competitiva e construa uma base de clientes fiel. Ignorar essa etapa é como navegar sem bússola.”

O estudo oferece insights valiosos, metodologias aplicadas e exemplos práticos de como micro e pequenos empreendedores podem se beneficiar da implementação de um plano de marketing estratégico.

Quer impulsionar o seu negócio e conquistar o mercado? Baixe agora mesmo o artigo científico completo e descubra o poder de um plano de marketing bem estruturado! [Clique aqui]

Congresso Andav vai debater o papel do agro na COP30

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) será realizada em novembro em Belém, no Pará e, por ser um evento que coloca o país em destaque no cenário internacional, tem sido motivo de muitas discussões. O tema terá um painel exclusivo no primeiro dia do Congresso Andav (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumo Agrícolas e Veterinários), que acontece de 5 a 7 de agosto no Transamérica Expo Center, em São Paulo.

Com mediação da advogada Samanta Pineda, especialista em Direito Socioambiental, sócia do escritório Pineda e Krahn, o painel “COP30 no Brasil” contará com Eduardo Bastos, diretor executivo do Instituto de Estudos do Agronegócio da Abag, e Silvia Massruhá, presidente da Embrapa. 

O setor do agronegócio se organiza desde o início do ano para uma ampla e ativa participação na COP30. Uma das principais ações em curso é a estruturação de uma inédita “AgriZone”, ou “zona do agro”, uma alusão às tradicionais blue zone (área das autoridades) e green zone (área das entidades) que costumam existir em todas as COPs. “Graças à presença do dr. Roberto Rodrigues e à sensibilidade do embaixador André Aranha Corrêa do Lago, que é o presidente designado da COP30, nós teremos um espaço designado para mostrar o quanto o agro faz parte dessa discussão de mudança climática, que é algo pouco representativo nas outras conferências e aqui no Brasil nós vamos ter”, comemora Pineda. O terceiro ponto que ela abordará durante sua mediação é a impossibilidade de acordo de financiamento climático, cujo valor estimado de US$ 1,3 trilhão não tem a concordância entre países desenvolvidos, além da transição energética justa e as medidas de adaptação a eventos extremos.

Foto: Divulgação / Andav

Outro momento esperado na 14ª edição do Congresso Andav será o Painel Distribuidor: Acesso Mercado, mediado pelo gerente de Relações Institucionais da Adubos Real, Alberto Yoshida, com a participação de Benhur Vione, diretor de Insumos da 3tentos, Mario Augusto, CEO Agroshop e Ricardo Bonacin, CEO Núcleo Agrícola. “O nosso painel destaca o papel estratégico da Distribuição, que oferece mais do que insumos ao campo, mas entrega confiança, previsibilidade e resultado. É isso que sustenta relações de longo prazo. O que iremos debater aqui é a importância da gestão profissional, da organização e da governança. Nosso segmento, ano após ano, demonstra que é capaz de crescer com consistência e responsabilidade”, antecipa Yoshida.

O mediador também pretende reforçar o protagonismo do distribuidor no dia a dia do campo. “O distribuidor está ao lado do produtor, enfrentando os desafios que impactam diretamente o nosso agro. E é neste painel que vamos discutir esses temas e trazer uma visão detalhada dos bastidores das empresas que hoje são referência em seus modelos de negócio e práticas de gestão”, completa Yoshida.

A programação inclui ainda o Painel “Inovação e Tecnologia” mediado pela jornalista e apresentadora da CBN Brasil, Cássia Godoy, com a participação de Alexandre Dal Forno, diretor de Desenvolvimento de Mercado IoT & 5G TIM, Frederico Logemann, Head de Estratégia de Inovação da SLC Agrícola, e Gustavo Spadotti, chefe-geral Embrapa Territorial. 

Em tempos de restrição ao crédito e alta taxa de juros, o Painel Crédito na Distribuição, com mediação do consultor André Pessoa, vai abordar temas como revolução digital, soluções financeiras e estratégias para ampliar o acesso ao crédito no agro. Participam deste debate o diretor de Agronegócios do Banco Santander, Carlos Aguiar Neto, o sócio-fundador Unibarter (Grupo Uniagro), Filipe Paiva, e o sócio-fundador Ecoagro, Moacir Teixeira.

O Congresso Andav é considerado o principal encontro do segmento de distribuição de insumos agropecuários no Brasil e reúne executivos, distribuidores, fornecedores e especialistas para debater tendências, desafios e oportunidades para o setor. Com quatro pavilhões e mais de 24 mil metros quadrados de exposição, o Congresso Andav 2025 terá a participação de 250 marcas expositoras e expectativa de 14 mil participantes.

Serviço:

Congresso Andav 2025

Data: 5 a 7 de agosto de 2025

Horários da Plenária: 05 e 06/08 das 10h às 16h45 | 07/08 das 10h às 16h

Horários de Exposição:

05 e 06/08 das 09h às 21h | 07/08 das 09h às 18h

Local: Transamerica Expo Center (Av. Dr. Mário Villas Boas Rodrigues, 387 – Sto. Amaro – São Paulo – SP – Entrada pelo Pavilhão G)

Mais informações: https://eventosandav.com.br/

Entenda como o açúcar e o etanol serão afetados pela tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil aos EUA

No último dia 09 de julho, por meio de uma carta endereçada ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump informou sua decisão de impor tarifa adicional àquelas já vigentes no percentual de 50%, aplicada a todo e qualquer produto brasileiro exportado para os Estados Unidos. A medida entrará em vigor em 1º de agosto. Ao justificar a medida, Trump afirmou que a relação comercial dos EUA com o Brasil é “injusta”. “Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco”, escreveu.

Essa tarifa adicional incidirá sobre todas as exportações de açúcar e etanol do Brasil aos Estados Unidos. Não é conhecido ainda se o governo brasileiro adotará alguma medida em resposta, mas Trump já avisou em sua missiva que qualquer retaliação será compensada por tarifas adicionais equivalentes.

No caso do açúcar, exportado pelo Brasil aos EUA através do regime de cota tarifaria, a tarifa de 50% impõe uma restrição que incidirá diretamente sobre os produtores / exportadores de açúcar da região Norte-Nordeste. Segundo a Lei nº 9.362/96, que visa conceder incentivos regionais, a região Norte-Nordeste é priorizada no acesso a mercados preferenciais para produtos derivados da cana-de-açúcar, e desta forma recebe anualmente uma cota de aproximadamente 146,6 mil toneladas de açúcar em bruto que é exportada aos EUA com alíquota zero. Acima deste volume, o imposto pode chegar a 80%. Esse é um volume extremamente baixo e que não corresponde à participação do Brasil na produção e exportação mundial, respectivamente de 44 milhões de toneladas e 34,5 milhões de toneladas, na safra 24/25.

Até mesmo para a região Norte-Nordeste esse volume é extremamente baixo, tendo em vista a produção e a exportação regional, estimada pela Datagro em 3,8 milhões de toneladas e 2,6 milhões de toneladas em 24/25.

O governo brasileiro tem respondido reiteradamente às iniciativas do governo norte-americano pleiteando a isenção da tarifa aplicada pelo Brasil às importações de etanol de países fora do Mercosul (tarifa extra-cota) de 18%, que estaria disposto a discutir uma redução ou isenção se houver uma redução recíproca da tarifa de importação sobre o açúcar nos EUA, que pode chegar a 80% sobre o valor exportado.

De qualquer maneira, a tarifa adicional de 50% anunciada por Trump, implica um custo adicional anual para as exportações de açúcar realizadas através da cota tarifaria norte-americana, de cerca de 27,9 milhões de dólares (150 mil t x US$ 371/t x 50%).

Para as exportações de etanol do Brasil aos EUA, considerando que em 2024 o Brasil exportou 309,72 milhões de litros, ao preço médio de US$ 0,587 por litro, a tarifa adicional de 50% representa um custo adicional anual estimado de 90,9 milhões de dólares (309,72 milhões de litros x US$ 0,587/l x 50%).

Até 31 de agosto de 2017, a alíquota do imposto de importação aplicada pelo Brasil foi de 20%. Entre 01 de setembro de 2017 e 31 de agosto de 2019, o imposto foi alterado para zero para um volume limitado a 150 milhões de litros por trimestre. Para volumes importados acima deste limite, o imposto permaneceu em 20%. O regime de isenção limitado a volumes trimestrais foi encerrado em 1 de setembro de 2019.

Entre 23 de março de 2022 e 31 de janeiro de 2023, o imposto de importação foi zerado para qualquer volume importado pelo Brasil a partir de países fora do Mercosul. Nesse período, o valor das importações de etanol dos EUA pelo Brasil foi de 82,98 milhões de dólares, para um volume de 117,42 milhões de litros (média mensal de 11,7 milhões de litros e 8,3 milhões de dólares).

Entre 1 de fevereiro de 2023 e 31 de dezembro de 2023, o imposto de importação passou a ser de 16%, e a partir de 01 de janeiro de 2024 passou a ser de 18%. Entre fevereiro de 2023 e junho de 2025, foram importados um total 205,14 milhões de litros vindos dos EUA, por um valor de 97,82 milhões de dólares (média mensal de 7,07 milhões de litros e 3,37 milhões de dólares).

Enquanto os setores de açúcar e etanol tendem a ser relativamente pouco afetados, a medida de Trump deve impactar de forma mais intensa as exportações brasileiras de aço, alumínio e carnes.

Importância dos EUA para o agronegócio brasileiro

Ao travar uma guerra de tarifas, Donald Trump tem justificado que a relação comercial com o Brasil tem sido injusta, “longe de ser recíproco”. Contudo, os números não corroboram o pretexto adotado pelo presidente norte-americano nesta discussão. Desde 2009 o Brasil tem registrado déficits comerciais (exportação menos importação) consecutivos com os EUA, o que reforça a intepretação de que as atitudes de Trump estejam mais alinhadas a objetivos políticos do que comerciais.

Por outro lado, os EUA são o terceiro maior destino das exportações do agronegócio do Brasil. Em 2024, o Brasil exportou US$ 164,30 bilhões em produtos agropecuários, sendo a China o principal destino, ao absorver 30,2% desse total, seguida pela União Europeia (14,1%) e pelos EUA (7,4%).

O Brasil embarcou 9,39 milhões de toneladas em produtos agropecuários para os EUA em 2024, aumento de 8,1% em um ano. Em valor, as exportações para o mercado norte-americano cresceram 23,0% para um recorde de US$ 12,08 bilhões, com produtos florestais (30,8%), café (17,2%) carnes (11,7%) e sucos (9,9%) entre os principais itens embarcados pelo Brasil para os EUA. O segmento de açúcar e etanol (6,6%) figurou em quinto lugar no ranking de produtos agropecuários brasileiros exportados para os EUA.

Todos estes setores foram pegos de surpresa com o anúncio da nova taxação sobre os produtos brasileiros. Os impactos relativos à nova tarifa de 50% ainda serão analisados pela indústria, que tendem a ser cumulativos.

Logo após a publicação da carta de Trump nas redes sociais, o presidente Lula se manifestou oficialmente, defendendo as instituições brasileiras, que foram alvo de críticas do presidente norte-americano, a exemplo da Justiça. Lula adotou até o momento uma postura cautelosa ao não prometer revidar de imediato com um aumento recíproco de tarifas sobre os produtos norte-americanos que entram no mercado brasileiro. Resta aguardar por um ambiente de diálogo e de negociação para abrandar a tensão comercial entre os dois países.

Tarifa dos EUA pode gerar perdas anuais de até US$ 17 bilhões nas exportações brasileiras e reduzir investimentos estrangeiros, alerta especialista

O anúncio da tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, feito pelo presidente Donald Trump, tem efeitos imediatos no comércio exterior brasileiro. A medida, que passa a valer em 1º de agosto, é vista por analistas como uma ‘tarifa política’ e inverte a lógica das sanções tradicionais dos EUA. Segundo o especialista em comércio exterior Rogério Marin, CEO da Tek Trade e presidente do Sindicato das Empresas de Comércio Exterior de Santa Catarina, o prejuízo anual para as exportações do Brasil pode variar entre US$ 12 bilhões e US$ 17 bilhões (R$ 70 bilhões a R$ 100 bilhões), o que representa entre 3,6% e 5% das exportações totais do país. Esta estimativa, segundo a métrica adotada pela CNI, pode representar uma perda de 432 mil a 612 mil empregos. Em termos de PIB, Marin estima um impacto negativo entre 0,6 e 0,8% ao ano no PIB total brasileiro.

“Não estamos diante de uma tarifa econômica, mas sim de uma ‘tarifa política’, já que os números da cadeia de comércio entre os dois países contradizem os argumentos apresentados pelo presidente Donald Trump de que o Brasil estaria se utilizando de ‘práticas comerciais injustas’. O impacto deve ser sentido principalmente nas exportações da indústria de transformação, que representa mais de 78,3% das vendas brasileiras aos americanos”, explica Marin. 

Em 2024, os EUA absorveram 12% das exportações brasileiras, totalizando US$ 40,3 bilhões, segundo a Amcham Brasil e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Conforme o especialista, a nova tarifa encarecerá produtos brasileiros em até US$ 20,15 bilhões por ano, reduzindo sua competitividade frente a fornecedores do México e Canadá, por exemplo, e pode provocar uma queda de até 42% nas exportações do Brasil para os EUA. Entre os setores mais afetados estão petróleo, aço, aeronaves, café e carne bovina. Só o aço e o alumínio devem registrar uma queda superior 11,2%, o equivalente a US$ 1,5 bilhão nas exportações, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Apesar da forte repercussão nas exportações, Marin chama atenção para um risco ainda maior: o Investimento Estrangeiro Direto (IED). Os EUA respondem por mais de 25% do IED no Brasil, com um estoque de US$ 300 bilhões. “O elefante na sala é o IED. Sem ele, a modernização da infraestrutura que dá suporte a expansão da economia brasileira fica comprometida. Isso representa um risco econômico maior do que as exportações ou a balança comercial, caso o governo americano demonstre desinteresse em investir no Brasil. Setores como tecnologia, automotivo e energia, que empregam diretamente milhares de trabalhadores, seriam os mais afetados, com impactos no PIB e no mercado de trabalho. A solução precisa ser diplomática”, alerta.

Os reflexos no mercado interno também devem ser sentidos. Produtos como o café, principal item exportado para os EUA no segmento de alimentos, podem ter redução de preço no mercado brasileiro, pela dificuldade de destinação a outros países.

 

Plano Safra 2025/2026: R$ 516,2 bilhões serão destinados ao agronegócio

O Governo Federal lançou o Plano Safra 2025/2026, com R$ 516,2 bilhões para o financiamento da agricultura e da pecuária empresarial no país. O crédito vai apoiar grandes produtores rurais e cooperativas com R$ 447 bilhões, e produtores enquadrados no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) com R$ 69,1 bilhões.

O valor é R$ 8 bilhões maior em relação à safra anterior e contempla operações de custeio, comercialização e investimento. As condições variam de acordo com o perfil do beneficiário e o programa acessado.

O crédito de custeio também poderá ser destinado à produção de sementes e mudas de essências florestais, nativas ou exóticas, e ao reflorestamento, com o objetivo de valorizar iniciativas voltadas à preservação ambiental. Ainda nesse contexto, será permitido o financiamento de culturas de cobertura, que ajudam a preservar o solo entre uma safra e outra.

Do total disponibilizado, R$ 414,7 bilhões serão para custeio e comercialização e R$ 101,5 bilhões para investimentos. As taxas de juros para custeio e comercialização serão de 10% ao ano para os produtores do Pronamp e de 14% ao ano para os demais produtores. Já para investimentos, as taxas de juros variam entre 8,5% ao ano e 13,5% ao ano, de acordo com o programa.

O governo prorrogou para o período de 1º de julho de 2025 a 30 de junho de 2026 a aplicação do desconto de 0,5 ponto percentual na taxa de juros das operações de crédito rural de custeio. A medida vale para produtores enquadrados no Pronamp e para os demais produtores que investirem em atividades sustentáveis, respeitados os limites definidos em cada instituição financeira para o ano agrícola.

Foto: Vladimir Srajber / Pexels.com

Sustentabilidade

Também a partir deste ano, o crédito rural de custeio agrícola passa a exigir as recomendações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), ferramenta que identifica áreas e épocas de plantio com menor risco de perdas devido a eventos climáticos adversos.

Anteriormente, a exigência era restrita a operações de até R$ 200 mil contratadas por pequenos agricultores do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) com enquadramento no seguro rural do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Agora, ela se estende a financiamentos acima desse valor e a contratos em que o Proagro não é exigido.

“O objetivo é evitar a liberação de crédito fora dos períodos indicados ou em áreas com restrições, e contribuir para maior segurança e sustentabilidade na produção”, explicou o governo. A exceção é para os casos em que não houver zoneamento disponível para o município ou para a cultura agrícola financiada.

O subprograma RenovAgro Ambiental, voltado a práticas agropecuárias ambientalmente sustentáveis, passa a contemplar ainda ações de prevenção e combate a incêndios no imóvel rural, além de recuperação de áreas protegidas. Entre as novidades, está a possibilidade de uso dos recursos para a aquisição de caminhões-pipa ou carretas-pipa e, entre os itens financiáveis, mudas de espécies nativas para a reposição e recomposição de áreas de preservação permanente e reservas legais.

Outras ações

Uma das novas possibilidades do Plano Safra é a ampliação do limite de renda para enquadramento no Pronamp, que passou de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões por ano, permitindo que mais produtores tenham acesso às condições diferenciadas oferecidas pelo programa.

Outra mudança na edição deste ano do plano é a autorização para o financiamento de rações, suplementos e medicamentos adquiridos até 180 dias antes da formalização do crédito, o que flexibiliza o acesso aos insumos.

Já os programas voltados à modernização e inovação tecnológica no campo ─ ModerAgro e InovAgro ─ foram unificados para simplificar o acesso ao crédito. Com isso, segundo o governo, houve aumento do limite disponível para investimentos em granjas, possibilitando que essas estruturas se mantenham sempre atualizadas em relação à sanidade animal.

O programa de armazenagem (PCA) também foi ampliado. O limite de capacidade por projeto passou de 6 mil para 12 mil toneladas, com o objetivo de melhorar a infraestrutura de estocagem e escoamento da produção rural.

Além disso, o novo ciclo do Plano Safra traz medidas para facilitar a renegociação de dívidas, oferecendo aos produtores que enfrentaram dificuldades em safras anteriores mais flexibilidade para reorganizar passivos e retomar o fluxo produtivo.

Agricultura familiar

Complementando os valores para o setor rural, o governo também anunciou o Plano Safra da Agricultura Familiar, com R$ 89 bilhões em recursos e taxas de juros menores para o financiamento de pequenos produtores na produção de alimentos, aquisição de máquinas e práticas sustentáveis, como bionsumos, sociobiodiversidade e transição agroecológica.