Mês: junho 2025
Conflito Israel-Irã: fechamento do Estreito de Ormuz prejudicaria exportações de carne brasileira ao Oriente Médio, alerta especialista
Enquanto o Conselho de Segurança Nacional iraniano não bate o martelo sobre o fechamento do Estreito de Ormuz, os riscos e impactos dessa decisão sobre a segurança jurídica e à economia brasileiros já estão sendo discutidos. Desde que o Parlamento do Irã aprovou neste domingo (22/6), uma resolução autorizando o bloqueio da região, especialistas têm mapeado o que, na prática, pode acontecer com o Brasil.
Frederico Favacho, sócio do Santos Neto Advogados e especialista em contratos internacionais de agronegócio, entende que é preciso atenção especial, principalmente nas exportações de carne. “O Brasil tem exportações significativas para países do Oriente Médio, como Arábia Saudita e Emirados Árabes, que podem ser afetadas pela instabilidade no Estreito de Ormuz, rota estratégica para o transporte de petróleo e gás natural liquefeito”, afirma.

No setor de Óleo e Gás, o fato de a rota marítima ser responsável por 20% do transporte global do petróleo, leva à avaliação de que a Ásia será a principal prejudicada, mas com respingos locais. “Apesar de não ser um grande exportador de petróleo bruto diretamente através do Estreito, o Brasil pode sofrer impactos indiretos devido à volatilidade do mercado e possíveis interrupções no fornecimento de outras commodities”, explica Favacho.
Estreito de Ormuz
O Estreito de Ormuz liga o Golfo Pérsico ao mar de Omã e, dali, ao oceano Índico. Por esta via, transitam diariamente cerca de 17 milhões de barris de petróleo, além de gás natural liquefeito do Catar. A região também é caminho para exportação de mercadorias, mas, no contexto econômico, o termo se refere mais especificamente a produtos básicos ou matérias-primas, como café, soja, petróleo, minério de ferro, entre outras.
Conflito Israel-Irã: como a tensão no Oriente Médio ameaça o preço do petróleo e pressiona o agronegócio global
A recente troca de ataques entre Israel e Irã elevou a tensão no Oriente Médio a um novo patamar, gerando ondas de incerteza que se propagam por toda a economia mundial. O epicentro desses tremores econômicos está no mercado de petróleo. O Irã, um dos maiores produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), com uma produção diária que supera os 3 milhões de barris, ocupa uma posição estratégica que pode desestabilizar toda a cadeia de suprimentos.
A principal preocupação dos analistas é o risco de uma interrupção no fluxo de petróleo através do Estreito de Ormuz, uma passagem marítima crítica por onde transita cerca de um quinto do consumo mundial de petróleo. Qualquer bloqueio ou conflito militar nesta área pode levar a uma disparada imediata nos preços. Em resposta à escalada, o preço do petróleo tipo Brent já demonstra forte volatilidade, com projeções de analistas indicando que o barril pode facilmente superar a barreira dos US$ 100, podendo alcançar até US$ 150 em um cenário de conflito prolongado e de maior abrangência.
O efeito dominó no agronegócio
Para o agronegócio mundial, a alta do petróleo não é uma ameaça distante, mas um fator que impacta diretamente a planilha de custos do produtor. A influência se dá por, principalmente, três vias:
Combustíveis e Logística: O diesel é o motor do campo. Ele alimenta tratores, colheitadeiras e os caminhões que escoam a safra do interior para os portos e centros de consumo. A alta do petróleo encarece o diesel, elevando os custos de produção e de transporte. Em países de dimensões continentais como o Brasil, onde a matriz logística é predominantemente rodoviária, o impacto é ainda mais severo, reduzindo as margens de lucro do produtor e encarecendo o frete.
Fertilizantes: A produção de fertilizantes nitrogenados, como a ureia, é um processo de alto consumo energético, utilizando o gás natural – cujo preço é frequentemente atrelado ao do petróleo – como principal matéria-prima. Além disso, o próprio Irã é um importante exportador desses insumos. A combinação de custos de produção mais altos e o risco de sanções ou interrupções no fornecimento da região pressiona os preços dos fertilizantes para cima, tornando o plantio da próxima safra mais caro.
Competitividade de Biocombustíveis: A alta do petróleo torna os biocombustíveis, como o etanol derivado da cana-de-açúcar e do milho, mais competitivos. Isso pode desviar parte da produção dessas culturas para a geração de energia em detrimento da produção de alimentos ou ração, influenciando os preços globais dessas commodities.
Impacto na mesa do consumidor
O aumento dos custos de produção no campo inevitavelmente chega às prateleiras dos supermercados. Com insumos e logística mais caros, o preço de commodities agrícolas essenciais como soja, milho e trigo tende a subir. Essa alta eleva os custos da indústria de alimentos e da produção de carnes e laticínios, gerando uma pressão inflacionária que é sentida pelos consumidores em todo o mundo.
Enquanto a diplomacia busca conter a escalada militar, a economia global prende a respiração. Para o agronegócio, o conflito no Oriente Médio é um lembrete de sua vulnerabilidade às crises geopolíticas e da complexa interconexão entre um barril de petróleo e o preço do pão. A duração e a intensidade desta crise determinarão a profundidade de seu impacto nos custos de produção e na segurança alimentar global.
Cinco aprendizados do modelo japonês de gestão que podem transformar os negócios no Brasil
Em tempos de alta competitividade e instabilidade econômica, muitos executivos buscam inspiração em modelos internacionais de sucesso para enfrentar os desafios do mercado brasileiro. Um dos mais consistentes é o modelo japonês de gestão, reconhecido globalmente por sua eficiência, disciplina e capacidade de adaptação.
Empresas como a YANMAR, fabricante de máquinas e soluções compactas para diversos setores da indústria brasileira, que há mais de um século aplica esses princípios no Japão, vêm transpondo esses aprendizados para o Brasil — com resultados que vão além do desempenho financeiro e impactam diretamente a cultura corporativa, a experiência do cliente e a inovação.
Para compartilhar aprendizados que podem inspirar outras organizações, a empresa lista abaixo cinco pilares do modelo japonês de gestão que estão contribuindo para a performance e resiliência de seus negócios no Brasil:
1. Foco no cliente: mais do que atender, é compreender
Na cultura japonesa, a satisfação do cliente não é tratada como um diferencial, mas como uma obrigação natural de qualquer empresa. Isso se reflete em práticas minuciosas de escuta ativa e customização de soluções. No Brasil, a YANMAR adaptou esse princípio investindo fortemente na aproximação com revendas e consumidores finais, por meio de programas internos estruturados para ouvir as necessidades do campo, da indústria, da construção e do mar, seus setores de atuação.
“Nosso objetivo é identificar com precisão o que o cliente realmente precisa — muitas vezes, antes mesmo de ele perceber a demanda. Essa abordagem nos permite entregar valor real e construir relações mais sólidas e duradouras”, afirma Wagner Santaniello, gerente de Inovação e Marketing da YANMAR South America.
Essa escuta ativa, segundo ele, é o ponto de partida para toda a cadeia de melhorias e inovações. “A fidelização nasce da atenção constante, da solução rápida de problemas e do compromisso genuíno com o sucesso do cliente”, complementa.
2. Kaizen: melhoria contínua como cultura de base
No Japão, o conceito de Kaizen — melhoria constante e incremental — não se limita a grandes reformulações. Pelo contrário: valoriza ajustes diários, que, ao longo do tempo, geram transformações robustas. A prática está enraizada no grupo YANMAR e, no Brasil, é fortalecida com a implementação do YPS (YANMAR Production System), inspirado nos sistemas japoneses de produção enxuta.
“O Kaizen exige disciplina, envolvimento coletivo e olhar crítico para todos os processos, inclusive os que já estão funcionando. Na YANMAR, incorporamos essas análises contínuas nas rotinas da fábrica e no relacionamento com os clientes”, explica o porta-voz. “A escuta da equipe, por exemplo, é um instrumento valioso para identificar gargalos e testar novas soluções”.
3. Soluções compactas: menos espaço, mais eficiência
A filosofia japonesa de soluções compactas nasceu da escassez de espaço no arquipélago e se traduziu em equipamentos menores, versáteis e altamente eficientes. No Brasil, essa mentalidade tem se mostrado estratégica especialmente em áreas rurais pequenas, obras urbanas com espaço limitado, embarcações de pequeno porte e sistemas descentralizados de geração de energia.
“As máquinas compactas oferecem não apenas economia de espaço, mas também mobilidade, baixo custo operacional e mais facilidade de manutenção. Isso amplia o acesso à tecnologia para pequenos e médios negócios, muitas vezes marginalizados pelas soluções tradicionais”, afirma Santaniello.
O executivo ainda destaca a versatilidade cruzada como diferencial: “Temos miniescavadeiras atuando no campo, pequenos tratores na indústria e geradores em locais remotos. O foco está na necessidade do cliente, e não na rigidez do uso original do equipamento.”
Além disso, soluções mais enxutas tendem a consumir menos energia, reduzindo impactos ambientais e operacionais — ponto cada vez mais valorizado em um Brasil pressionado por questões climáticas e de infraestrutura.
4. Pós-venda e relacionamento: lealdade construída no detalhe
A cultura japonesa considera que o relacionamento com o cliente só começa de fato após a venda. Esse pensamento se reflete em práticas detalhistas de suporte técnico e acompanhamento contínuo. No Brasil, a empresa estruturou sua área de pós-venda com atendimento dividido por linhas de produto e uma ampla rede de concessionárias.
“Nosso time de pós-venda atua com agilidade, escutando o campo e promovendo visitas técnicas com o projeto Magokoro, que significa ‘sinceridade’ em japonês. É uma forma de agradecer ao cliente e entender, in loco, como podemos melhorar ainda mais”, explica.
A coleta sistemática de feedback — por meio de pesquisas e relatórios — retroalimenta os setores de engenharia e qualidade, resultando em produtos mais alinhados às necessidades reais. “Esse cuidado cria confiança. E confiança, num mercado volátil, vale mais do que qualquer desconto”, completa.
5. Visão de longo prazo: estratégia que atravessa crises
Enquanto muitas empresas ainda operam com foco em trimestres e lucros imediatos, o modelo japonês valoriza o planejamento estratégico com horizonte de anos. No Brasil, isso tem se traduzido em investimentos sustentáveis e relações comerciais de longo prazo.
“Temos revendas e fornecedores que estão conosco há mais de 30 anos. Essa longevidade não é fruto de acaso, mas de uma política de confiança mútua e previsibilidade nos negócios”, relata o executivo. “A cultura japonesa nos ensina que, para crescer de forma sólida, é preciso resistir à tentação dos atalhos e construir sobre alicerces bem definidos”.
Ao manter investimentos em infraestrutura, capacitação e inovação mesmo durante períodos de retração, empresas que seguem essa lógica se tornam mais resilientes a ciclos econômicos adversos.
Mais do que um modelo de gestão, a filosofia empresarial japonesa representa uma visão de mundo. No Brasil, sua aplicação cuidadosa e adaptada ao contexto local pode ajudar empresas a criar operações mais eficientes, relacionamentos mais humanos e estratégias mais duradouras. E embora os resultados possam levar tempo para aparecer, a recompensa é perene: uma marca confiável, uma equipe engajada e um legado empresarial sólido.


