Congresso Abramilho reúne especialistas para debater os desafios do setor

Com foco em sustentabilidade, inovação e cenários macroeconômicos, o 3º Congresso Abramilho reuniu, em Brasília, lideranças do agro, pesquisadores, políticos e produtores rurais. Os caminhos e desafios do milho brasileiro diante das transformações globais pautaram o evento, promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho).

Durante a abertura do congresso, o presidente em exercício Geraldo Alckmin apresentou uma novidade para o setor. “A principal conquista é a abertura do mercado chinês ao DDG* brasileiro, o farelo produzido durante a fabricação do etanol de milho, um mercado que cresce em progressão geométrica e contribui para a mitigação dos riscos climáticos”, afirmou.

Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), ressaltou o empenho em acelerar o andamento da implantação da Ferrogrão e confirmou que há espaço para ampliar recursos e acesso ao seguro rural. “Isso porque o seguro rural é uma ferramenta fundamental para a gestão das mudanças climáticas, que são uma realidade”, explicou o presidente em exercício.

Déficit de armazenagem

Pensar no futuro da produção de alimentos no Brasil passa, obrigatoriamente, pelo aperfeiçoamento de infraestruturas, como logística e armazenagem. O alerta foi feito tanto pela superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB), Tânia Zanella, quanto pelo vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Mario Schreiner.

“Existem mais de 1.200 cooperativas agrícolas no Brasil que englobam mais de 1,2 milhão de cooperados. O sistema cooperativista pode ser uma grande ferramenta de inclusão para pequenos produtores, reduzindo custos para o acesso a mercados e à infraestrutura, que é o nosso maior gargalo hoje em dia”, afirmou Tânia Zanella – que também atua como presidente do Instituto Pensar Agro (IPA).

O ritmo de crescimento do mercado de etanol foi citado pelo representante da CNA como mais uma razão para que a armazenagem de grãos seja intensificada no Brasil. “Ainda enfrentamos um déficit de armazéns que não acompanha o desenvolvimento do setor. Devido a esse déficit, o produtor rural precisa ter outras ferramentas para evoluir, como o seguro rural e um Plano Safra mais robusto e acessível”, listou José Mario Schreiner.

De acordo com Paulo Bertolini, presidente da Abramilho, o potencial para ampliar a produção do milho não é o desafio, mas sim aumentar o volume disponível para armazenamento. “Crescemos em torno de 10 milhões de toneladas por ano na produção de milho. Não demora muito seremos o País do milho, superando outros grãos, com o sorgo vindo junto. Com isso, precisamos mudar a lógica de armazenagem. O ideal seria seguirmos o modelo norte-americano, onde é possível armazenar mais de uma safra inteira dentro das fazendas”, afirmou.

Foto: Jayme Vasconcellos / Agricultura e Negócios

Desempenho na economia

O Brasil é hoje o terceiro maior produtor de milho do mundo, com uma produção estimada em 122,7 milhões de toneladas na safra 2024/2025, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China, o país também ocupa o topo do ranking de exportações: foram 34 milhões de toneladas exportadas na última safra, para mais de 140 países.

Além de ser essencial para a segurança alimentar global, o milho é um dos pilares da produção de ração animal, da indústria alimentícia e da matriz energética brasileira, sendo matéria-prima para a produção de biocombustíveis como o etanol.

Sorgo

Os próximos anos serão marcados pelo avanço da produção de sorgo no Brasil, apostou o pesquisador da Esalq/USP, Mauro Ozaki. Dois aspectos endossam essa projeção: o aproveitamento do grão por biorrefinarias de etanol de milho e o uso do sorgo como matéria-prima para a produção de farelo para ração animal. “O mercado para o sorgo tem se ampliado e isso tende a aumentar, porque o grão está começando a ser usado como opção na composição de ração animal. Além disso, devido ao custo de produção menor, o sorgo também está sendo testado por indústrias de etanol de milho”, afirmou o pesquisador.

Investimentos estrangeiros

A capacidade de produção de alimentos e energia sustentável posiciona o Brasil como uma opção segura para os investidores internacionais. Essa previsibilidade econômica e um cenário político estável protegeriam a nação das incertezas da economia mundial. De acordo com Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, as últimas medidas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, significaram um retrocesso nas relações comerciais do país com o mundo. “Como resultado, temos uma depreciação no dólar, e, consequentemente, a valorização do real”, disse Megale.

Mas, se a última guerra tarifária, em 2018, desencadeou um super ciclo para as commodities, os efeitos para o Brasil agora tendem a ser mais amenos. “Poderemos esperar uma leve tendência de queda nos preços, mas temos um cenário mais estável, pois a China já é um grande parceiro comercial nosso”, analisou Leonardo Alencar, head de agro da XP.

Apesar desse posicionamento do Brasil, a tendência é de que a instabilidade no cenário internacional continue, antecipou o diretor do Departamento de Política Comercial do Itamaraty, embaixador Fernando Pimentel. “Precisamos nos preparar para um mundo mais rude e difícil, e isso significa termos ferramentas como a política de reciprocidade comercial”, ponderou Pimentel.

*DDG de milho, ou Distillers Dried Grains, é um subproduto da produção de etanol a partir do milho, rico em nutrientes como proteínas, fibras e gorduras. É um co-produto da indústria de biocombustíveis, mais especificamente do processo de produção de etanol. Os DDGs são utilizados na alimentação animal, especialmente de ruminantes, como bovinos de corte e leite.

Reportagem: Jayme Vasconcellos (com informações da Abramilho) | Produção: Joyce Pires

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.