Retrospectiva: veja os destaques do agronegócio em 2024

Safra de grãos – A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção de grãos no Brasil na safra 2024/2025 será de 322,47 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 8,3% em relação ao ciclo anterior. O Mato Grosso é o maior produtor nacional de grãos, com participação de 28%. O Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais completam a lista dos maiores produtores. O PIB do agronegócio pode corresponder a 21,8% do PIB do Brasil em 2024, abaixo dos 24% registrados no ano passado.

Tecnologia – A tecnologia está transformando radicalmente o setor agrícola. A inteligência artificial, por exemplo, permite analisar grandes volumes de dados sobre clima, solo, plantações e até mesmo o comportamento do consumidor, possibilitando a criação de modelos preditivos e a tomada de decisões mais estratégicas. Drones equipados com câmeras de alta resolução e sensores multiespectrais oferecem imagens detalhadas das lavouras, permitindo identificar problemas com precisão e agilidade. Já os satélites fornecem informações em tempo real sobre as condições climáticas e do solo, auxiliando no planejamento das atividades agrícolas.

    Exportações – As exportações brasileiras de produtos agrícolas atingiram US$ 152,63 bilhões entre janeiro e novembro de 2024. Esse valor representou 48,9% do total das exportações brasileiras no período. O desempenho do agronegócio brasileiro em 2024 foi o segundo melhor da história, ficando atrás apenas dos US$ 153,06 bilhões exportados entre janeiro e novembro de 2023. Os principais setores responsáveis pelo desempenho foram o complexo soja (US$ 52,19 bilhões), carnes (US$ 23,93 bilhões) e o complexo sucroalcooleiro (US$ 18,27 bilhões).

    Queda de ponte afeta logística do agronegócio na região do Matopiba

    por Jayme Vasconcellos*, com informações da Agência Brasil

    A queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira sobre o rio Tocantins teve um impacto significativo na logística de transporte rodoviário na região. A estrutura, que fazia parte da BR-226 e ligava os estados do Tocantins e do Maranhão, era uma importante artéria para o escoamento de produtos agrícolas e minerais. No último domingo (22/12), o vão central da ponte, de 533 metros de extensão, cedeu. Até o momento, as autoridades confirmam que quatro pessoas morreram e outras treze estão desaparecidas.

    Com o desabamento, o tráfego foi desviado para outras rotas, aumentando o tempo e o custo de transporte. Isso já tem afetado negativamente a economia local, especialmente o agronegócio, que depende do transporte eficiente para manter sua competitividade. O escoamento da safra de grãos 2024/2025, que deve ser colhida a partir de abril na região, deve ser impactado, pois até lá o tráfego na ponte possivelmente não terá sido restabelecido.

    Além disso, a interrupção também causou problemas para o abastecimento de mercadorias essenciais, como alimentos e medicamentos, para as comunidades locais. A falta de infraestrutura adequada e a necessidade de investimentos em manutenção e conservação das rodovias foram destacadas como principais causas do acidente.

    Foto: Corpo de Bombeiros / Governo do Tocantins

    Rotas alternativas

    O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) divulgou rotas alternativas para os usuários da rodovia. Os motoristas do Tocantins devem acessar a estrada que vai de Darcinópolis a Luzinópolis, chegar na BR-230 e seguir até o km 101 (cidade de São Bento). Em seguida pegar a direita, sentido Axixá e Imperatriz (MA).

    Quem vai do Maranhão deve acessar a BR-226 em Estreito até Porto Franco. De Porto Franco os usuários devem seguir pela BR-010 até Imperatriz.

    Contaminação da água

    Caminhões que caíram da ponte provocaram a contaminação da água do rio e a interrupção preventiva do fornecimento da água para os moradores da região. As carretas transportavam cerca de 22 mil litros de defensivos agrícolas e 76 toneladas de ácido sulfúrico, produto químico corrosivo.

    Após monitoramento e análises técnicas, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) emitiu um parecer afirmando que não há risco no consumo da água do rio. Em nota, a ANA afirmou que a captação da água para abastecimento de Imperatriz (MA) será retomada imediatamente.

    Investigação

    A Polícia Federal (PF) informou que começou a investigar a queda da ponte. Em nota, a corporação disse que as ações serão conduzidas pelas superintendências regionais da PF no Maranhão e no Tocantins. O DNIT também vai investigar as causas do acidente. O órgão informou que instaurou uma sindicância para apurar causas e responsabilidades sobre o desabamento.

    Reconstrução da ponte

    Para mitigar os efeitos da queda da estrutura, autoridades estaduais e federais precisam trabalhar juntas para estabelecer soluções temporárias e permanentes. Isso inclui a construção de uma nova ponte, melhorias nas rotas alternativas e investimentos em infraestrutura viária. A cooperação entre os setores público e privado é fundamental para minimizar os impactos econômicos e garantir a fluidez do transporte na região.

    Nesse cenário, o Ministério dos Transportes informou que um decreto de emergência destinará mais de R$ 100 milhões para a construção de uma nova ponte. A expectativa é que os recursos sejam liberados ainda este ano.

    *Jornalista e radialista. Editor-chefe do Agricultura e Negócios. Autor do livro “Liderança: desvendando os segredos para inspirar e conduzir no século XXI” e especialista em Comunicação e Marketing.

    Como o preço da arroba do boi está alavancando o mercado de terras no Brasil

    A alta histórica no valor da arroba do boi, observada durante o segundo semestre de 2024, está movimentando o mercado de terras, com o aumento na procura de fazendas de pecuária, principalmente por meio de arrendamento. De acordo com o Chaozão, portal especializado em anúncios de imóveis rurais, muitos produtores têm buscado fazendas para arrendamento de pecuária, aproveitando o bom preço do mercado da carne. Dos arrendamentos anunciados em todo o Brasil, 18% são específicos para pecuária e outros 20% são de dupla aptidão, com uso também para pecuária.

    O aumento na procura de fazendas para arrendamento, segundo especialistas do mercado, se justifica principalmente pela necessidade de terminação dos animais para abate e a reposição de plantel.

    No lugar dos animais abatidos, outros são repostos em outras fases de desenvolvimento, que serão engordados para futuramente serem também abatidos. Esse é o ciclo da pecuária que dura em média de 4 a 5 anos, com variações do preço da arroba e da demanda interna e global, devido à disponibilidade de animais para abate. O que precede a alta da arroba é a falta de matrizes para cria, com o aumento do abate das mesmas, por falta de outros animais ou por renovação de plantel.

    Foto: Jayme Vasconcellos / Agricultura e Negócios

    “A recente e severa seca prejudicou a qualidade e disponibilidade de forrageira (pastagem) e, consequentemente, freou a terminação dos animais para abate. O pasto ficou rapado e as aguadas secaram, prejudicando o ganho de peso dos animais e aumentando os custos de produção, devido a busca por outras opções nutricionais. Alguns pecuaristas precisaram ou precisam tirar o gado do pasto da fazenda para recuperar a pastagem e levar o gado para onde tem pasto bom. Uma saída oportuna para aproveitar a alta da arroba é arrendar áreas com pastagem adequada e conseguir fazer a terminação dos animais para abate, garantindo lucro maior”, explica Renata Apolinário, engenheira agrônoma e diretora operacional do Chaozão.

    O retorno dos “sojistas” para a pecuária, segundo Renata Apolinário, também merece destaque, já que o preço menos atrativo do grão da soja está provocando um movimento de retomada entre muitos produtores que, agora, enxergam na agropecuária uma estratégia de diversificação das atividades, apostando na crescente do mercado da carne.

    Arrendatários buscam maximizar o rebanho

    Muitos produtores que atuam apenas com arrendamento diminuíram os bois por conta do preço da arroba, quando ela estava em baixa. Agora, estão voltando para o segmento, com a melhora do preço, aumentando o rebanho. Analistas do setor levantam a bandeira de atenção do pecuarista para um bom planejamento, dentro dos ciclos na pecuária nacional, pois junto com a alta da arroba, os custos de produção também aumentaram.

    “As ações de recria de animais destinados ao confinamento e de animais em terminação para abate fazem parte de um planejamento estratégico do pecuarista e devem ser feitas antes da crise de animais no mercado. Agora passa a ser uma ação imediatista, que pode não ser tão lucrativa, já que um bezerro passou de R$ 1.800,00 para R$ 2.400,00 a R$ 2.800,00”, destaca Manoel Assis de Freitas, consultor de pecuária. A análise considera o valor base do Vale do Araguaia (GO).

    O pecuarista de boi a pasto que busca por terras para arrendamento também deve ficar atento à qualidade do capim que compõe essas áreas. “Após 6 meses de seca, as altas temperaturas e a morte súbita do capim provocaram uma escassez de áreas com pasto de boa qualidade, por isso é importante selecionar áreas em que o capim esteja bem formado e, principalmente, seja uma espécie facilmente manejável. Não observar estes pontos pode acabar onerando os custos de produção”, aponta Ludmilla Castro, engenheira agrônoma e sócia da Sementes Globo Rural.

    Segundo Castro, outro ponto que deve ser analisado é se o capim é “dócil” o suficiente para o manejo. “Caso o capim seja de difícil manejo, o pecuarista vai encontrar entraves para conseguir aproveitar todas as qualidades que o capim tem a oferecer, vai gastar mais com adubação e pode errar mais durante o manejo. Um capim que passou do ponto de pastejo, possui menor quantidade de folhas e maior quantidade de talos, ou seja, a qualidade cai drasticamente”, afirma.

    A agrônoma sugere, ainda, que o pecuarista observe bem as condições de degradação do solo. “Em um pasto degradado ou em vias de degradação, não se consegue atingir a máxima capacidade de lotação e isso reflete na diminuição da quantidade de arrobas produzidas por hectare”, explica.

    Esse giro de dinheiro, influenciado pela alta da arroba do boi, é importante para a movimentação e dinâmica da economia, gerando melhorias ao setor pecuário, mas é preciso planejamento e boa condução da atividade, colocando tudo na ponta do lápis e analisando se é uma pecuária lucrativa ou só por amor.

    Ceia de Natal: produtos ficam até 34% mais caros ao longo do ano

    A ceia de Natal dos brasileiros este ano terá um ingrediente salgado além do tempero dos tradicionais pratos da época: o preço dos produtos. O monitoramento dos valores dos itens da cesta natalina, realizado pela Neogrid, ecossistema de tecnologia e inteligência de dados que desenvolve soluções na gestão da cadeia de consumo, aponta um aumento no preço médio de produtos como o azeite (34,3%), arroz (28,5%), bacalhau (22,5%) e até o panetone (5,4%).

    O estudo mostra elevações nos valores em 12 dos 13 produtos analisados, entre dezembro de 2023 e outubro de 2024. As maiores variações aconteceram no preço médio do litro do azeite de oliva, que saltou de R$ 84,86 para R$ 114,00 no período, e do arroz, que subiu de R$ 10,64 para R$ 13,70. Já a batata inglesa teve alta de 23,2% (de R$ 7,37 para R$ 9,08) e a maionese aumentou 14,3% (de R$ 27,78 para R$ 31,76).

    “As mudanças climáticas têm gerado uma série de impactos que resultam nesse aumento, começando pela redução das áreas de plantio tomadas pelo fogo. O fenômeno El Niño, por exemplo, afetou a safra de soja, alimento essencial de animais como os suínos, o que acaba influenciando no preço final de diversos itens”, explica Anna Fercher, coordenadora de Atendimento ao Cliente e Dados Estratégicos da Neogrid.

    Proteínas mais caras

    O consumidor tem sentido no bolso o preço mais elevado das principais proteínas utilizadas nas festas de fim de ano. O valor do bacalhau, por exemplo, cresceu 22,5% (saindo de R$ 100,94, em dezembro de 2023, para R$ 123,66 em outubro deste ano). Logo atrás, aparece o frango, tipo de ave mais requisitada para compor a ceia, com variação de +22,2% (de R$ 20,55 para R$ 25,11). A categoria de suínos subiu 9,8% (de R$ 30,63 para R$ 33,64).

    Bebidas também

    Os líquidos também apresentaram elevações nos preços: o suco pronto sofreu reajuste de 16,4%, enquanto o refrigerante, de 15%. Bebidas alcoólicas, como a cerveja, saltou 14,4%, ao passo que o vinho, 3,1%. De todos os produtos da cesta, o único que teve retração no preço foi o suco concentrado (-21%). O produto custava R$ 22,54 em dezembro do ano passado e caiu para R$ 17,51 em outubro de 2024.

    Foto: Nicole Michalou / Pexels.com

    Plataforma interativa organiza dados estratégicos para a logística do agronegócio

    com informações da Embrapa Territorial

    Acaba de ser lançada uma nova versão do Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária Brasileira (SITE-MLog). Desenvolvida pela Embrapa Territorial (SP), ela traz dados detalhados sobre a logística agropecuária do País. Gratuita e acessível pelo Portal da Embrapa, a ferramenta oferece informações atualizadas sobre dez cadeias produtivas: algodão, bovinos, café, cana-de-açúcar, galináceos, laranja, madeira para papel e celulose, milho, soja e suínos. Capaz de gerar milhares de mapas e gráficos sobre a produção e a exportação dessas cadeias, o SITE-MLog agora inclui painéis interativos que permitem análises personalizadas sobre produção, exportação, armazenagem, processamento e demanda por insumos agrícolas.

    A primeira versão do sistema foi criada em 2018, a pedido do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para integrar dados que antes estavam dispersos em bancos de diferentes fontes. “A grande vantagem do SITE-MLog é a economia de tempo e a padronização das informações, que agora estão organizadas e acessíveis em uma única interface. Isso facilita análises rápidas e estratégias mais eficientes para o setor agropecuário”, afirma Gustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial.

    Dados de produção: séries históricas e concentrações regionais

    Na nova versão, os dados de produção agropecuária estão disponíveis em uma série histórica que vai de 1990 a 2023. É possível visualizar no mapa ou em uma tabela qual o volume e valor obtido em cada microrregião do País. O mesmo painel apresenta um mapa com a concentração espacial da produção, organizando as localidades em quatro grupos, chamados de quartéis.

    Um exemplo é o dado de concentração da produção de milho: apenas quatro microrregiões são responsáveis por 25% de toda a produção nacional. Na criação de bovinos, a concentração é um pouco menor; ainda assim, um quarto da produção está em apenas 21 das 557 microrregiões brasileiras.

    O sistema também permite obter esse indicador no contexto de apenas uma unidade federativa ou uma das cinco grandes regiões. Por exemplo, a microrregião de Bauru não está no grupo das que respondem por 25% da produção nacional de bovinos; mas, quando se considera apenas o estado de São Paulo, figura entre as quatro que concentram um quarto do rebanho.

    “Esse indicador de concentração ajuda a definir prioridades para políticas públicas e investimentos privados. Ele permite identificar quais áreas merecem atenção especial, seja para fomentar a produção ou melhorar a infraestrutura existente”, explica o analista da Embrapa André Farias. “Por exemplo, alguém pode fazer uma simples seleção e obter as regiões que concentram 25%, 50% e 75% da produção de soja no Brasil. A partir desses cenários, pode-se estabelecer uma estratégia diferenciada de investimento para a cultura, com redução de tempo e de recursos empregados”, detalha Farias.

    Exportação: monitoramento de rotas e subprodutos

    Na área dedicada à exportação, o usuário encontra o volume e o valor da exportação agropecuária registrado em cada microrregião do País, para os dez produtos que integram o SITE-MLog, entre 1997 e 2023. Também estão disponíveis dados por subproduto. Por exemplo, a microrregião do sudoeste de Goiás colocou 10 milhões de toneladas de soja no mercado internacional, no ano de 2023, o que gerou 5,3 bilhões de dólares. Desse volume, 12% foram exportados na forma de farelo e 1,8% como óleo de soja. O sistema ainda mostra qual o volume e valor exportado por porto ou terminal de escoamento, bem como os países de destino. O Porto de Santos é ponto de partida da maior parte das cargas para oito das dez cadeias produtivas. Galináceos e suínos são exceção e têm grande parcela dos embarques nos portos da Região Sul, onde também está concentrada a produção.

    Bacias logísticas: um olhar sobre o transporte agropecuário

    Com os dados de produção e exportação do SITE-MLog, a Embrapa Territorial analisou por qual porto cada microrregião brasileira exportadora embarca grãos (soja e milho) para o mercado internacional. A partir dessa informação, delimitou oito bacias logísticas, áreas do território nacional que preferencialmente enviam cargas para o exterior pelo mesmo terminal marítimo. Assim, é possível visualizar, facilmente, no mapa, que até mesmo municípios no extremo oeste de Mato Grosso, quase na fronteira com a Bolívia, exportam preferencialmente pelo porto de Santos. Já para o extremo norte do estado, a rota para os portos do Pará e Amapá mostrou-se mais atrativa.

    O conceito das bacias logísticas foi desenvolvido na primeira versão do SITE-MLog. A nova plataforma traz a configuração atualizada com dados de 2023. Para o chefe-geral do centro de pesquisa, o conceito e a delimitação das bacias logísticas estão entre as principais contribuições da ferramenta. Spadotti destaca que essas análises são fundamentais para planejar melhorias na infraestrutura logística. “A partir da configuração dessas bacias logísticas, identificamos os principais gargalos no escoamento de grãos para a exportação e pudemos propor a priorização de obras para solucioná-los”, conta.

    Armazenagem e processamento: nova dimensão no mapeamento logístico

    Uma das principais inovações da nova versão do SITE-MLog é a localização dos estabelecimentos nos quais parte da produção é estocada ou processada. Os mapas identificam armazéns, usinas de açúcar e etanol, frigoríficos e outros estabelecimentos que processam carnes, além de beneficiadoras de algodão, milho e soja. A filtragem de informações no painel permite saber que a maior parte dos armazéns do Nordeste é do tipo convencional, mas a capacidade instalada está concentrada nos de categoria graneleiro e nas baterias de silos. A microrregião de Barreiras (BA) tem a maior quantidade de armazéns: são 449 unidades. Neles, é possível estocar até 5,2 milhões de toneladas de grãos. O sistema apresenta o nome, tipo, endereço e capacidade instalada de cada um deles.

    Navegando pelos painéis sobre as estruturas de processamento, o usuário descobre que há 22 usinas produtoras de etanol de milho em operação no País, além de 11 projetadas e 9 em processo de autorização para construção. Diferentemente das que processam apenas cana-de-açúcar, elas estão concentradas na Região Centro-Oeste.

    A analista da Embrapa Jaudete Daltio conta que a armazenagem já estava presente nos estudos logísticos da primeira versão do SITE-MLog e, agora, esses dados são apresentados também na forma de painéis dinâmicos. O objetivo é ampliar o entendimento sobre os caminhos dos produtos até o destino. “Mostramos o que uma localidade produziu e para onde está exportando, mas e o meio do caminho? O tema era, de fato, muito relevante”, declara.

    Farias avalia que regiões com mais estruturas de estocagem e processamento oferecem aos agricultores e pecuaristas melhores condições de negociar sua produção. “Ter uma condição adequada de armazenagem permite que os produtores tenham condição de escolher o período favorável à comercialização. Da mesma forma, as unidades de beneficiamento representam uma possibilidade de ganho e de agregação de valor aos produtos. Regiões que não têm essas estruturas ficam mais condicionadas a uma única via e isso pode trazer vulnerabilidade. Por isso, nessa segunda versão da plataforma, representamos essa diversidade e complexidade da logística da agropecuária, que não é apenas produção, nem apenas levar ao porto”, explica.

    Demanda por nutrientes agrícolas: um estudo inédito

    A eficiência da logística agropecuária também é importante para o suprimento de insumos no campo, em especial os nutrientes agrícolas. Pela primeira vez, o SITE-MLog apresenta um mapa interativo com a quantidade demandada de calcário, gesso e nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) de sete culturas agrícolas: algodão, café, cana-de-açúcar, eucalipto, laranja, milho e soja.

    O analista da Embrapa Rafael Mingoti conta que as estimativas de demanda foram feitas considerando não só o volume de produção de cada microrregião, mas também a taxa de exportação de nutrientes, com base em dados retirados de artigos científicos. “As estimativas foram feitas com o método científico, baseado em indicadores de pesquisa, mostrando a quantidade de nutrientes que se deve repor no solo após o cultivo. Esse levantamento feito para tantas culturas e para o Brasil todo é inédito”, destaca. O Sistema apresenta também mapas indicando onde há disponibilidade de nutrientes no território nacional para atender a demanda.

    O SITE-MLog conta ainda com uma área de estudos logísticos, com publicações técnicas e científicas, e análises feitas pela Embrapa Territorial a partir da ferramenta, desde 2018.

    Queimadas e desperdício de alimentos reforçam urgência de tecnologia para práticas agrícolas sustentáveis

    por Sergio Rocha*

    A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) estima que cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidas ou desperdiçadas anualmente em todo o mundo. No Brasil, além do desperdício, o setor agrícola enfrenta desafios ambientais críticos, como as recentes queimadas que devastaram grandes áreas de cultivo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, apenas nos primeiros oito meses deste ano, mais de 100 mil focos de incêndio foram registrados, afetando diretamente a produção agrícola e a qualidade do solo. As queimadas resultam na liberação de carbono e em grandes perdas de produtividade agrícola, o que contribui para o ciclo de insegurança alimentar.

    Diante desse quadro alarmante, é essencial entender que a continuidade dessas perdas e a degradação ambiental colocam em risco a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor. Por isso, destaca-se a necessidade urgente de práticas agrícolas mais eficientes e sustentáveis para mitigar o impacto dessas perdas e otimizar a produção de alimentos.

    Tecnologias como a Agricultura de Precisão (AP) e o geoprocessamento surgem como soluções promissoras nesse cenário. Desde sua consolidação entre as décadas de 1950 e 1990, impulsionada pela mecanização e pela introdução do GPS, a Agricultura de Precisão tem sido essencial na gestão agrícola, utilizando avanços tecnológicos para otimizar o uso de insumos e enfrentar os desafios atuais.

    Hoje, ao analisar dados detalhados sobre atributos das lavouras, como a fertilidade do solo, os produtores rurais conseguem adaptar suas práticas de manejo, reduzindo custos e utilizando os recursos de forma mais eficiente. Essa abordagem incentiva um uso sustentável da terra, maximizando a produtividade.

    Por sua vez, o geoprocessamento desempenha um papel crucial na AP, é ele quem permite a coleta e análise de dados geográficos essenciais para o monitoramento das lavouras. Através de mapas que revelam variações de produtividade e características do solo, os trabalhadores rurais conseguem tomar decisões mais informadas sobre o manejo de suas culturas.

    Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

    Essa interação entre AP e geoprocessamento é fundamental para aumentar a produtividade, já que ao coletar e analisar dados geográficos, o sistema possibilita uma visão aprofundada das lavouras, levando a decisões que minimizem o uso excessivo de insumos. Essas combinações têm o potencial de transformar o agronegócio. Empresas que utilizam geomonitoramento remoto, por exemplo, conseguem antecipar dados climáticos, calcular o uso do solo e até emitir alerta sobre focos de incêndio.

    No entanto, apesar dos benefícios, a AP ainda enfrenta desafios significativos, como a falta de conectividade em áreas rurais. Segundo o Indicador de Conectividade Rural (ICR), somente 18,8% da área agrícola produtiva do Brasil possui condições adequadas de conectividade. A ausência de infraestrutura limita o acesso a essas tecnologias, dificultando que os produtores rurais aproveitem ao máximo o potencial das inovações disponíveis.

    Superar o desafio da infraestrutura é fundamental para que o agronegócio brasileiro realmente tire proveito de todas essas ferramentas, que prometem transformar o setor e oferecer uma vantagem competitiva crucial em um mercado cada vez mais acirrado.

    A expansão do 5G e de aplicativos móveis sinaliza avanços importantes, hoje por exemplo, é possível ter acesso à ferramentas de monitoramento em tempo real através de whatsapp, alcançando até mesmo o menor produtor e sem depender de  investimentos robustos. O questionamento que fica é: o mercado precisa utilizar a evolução tecnológica e o agronegócio do futuro, baseado em dados, algoritmos, IA para garantir um futuro mais competitivo e sustentável para o planeta.

    *CEO da Agrotools. Especialista em planejamento estratégico, com mais de 30 anos de experiência em áreas como commodities agrícolas, serviços financeiros, tecnologia, comércio internacional, dados e geotecnologia. Ex-presidente da presidente da Tecpar Technology Investment Partners (EUA).

    Desenvolver a computação quântica é fator estratégico para a agricultura do Brasil

    com informações da Embrapa Agricultura Digital

    Uma tecnologia emergente promete impulsionar a agricultura digital e impactar profundamente áreas de pesquisa agropecuária: a computação quântica. Com potencial para resolver problemas complexos de forma mais rápida e precisa, essa inovação pode ser aplicada em áreas como agricultura inteligente, modelagem climática, sensoriamento remoto e bioinformática, segundo estudo da Embrapa Agricultura Digital (SP) com apoio do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

    Publicado na revista científica Pesquisa Agropecuária Brasileira (PAB), o artigo analisa as aplicações e os desafios da computação quântica no agro e a colocam como estratégica para o futuro do setor. “Pesquisas na fronteira do conhecimento, como em computação quântica, podem apoiar a tomada de decisões em diferentes elos das cadeias produtivas do setor de forma mais eficiente, pois envolvem processos com elevado grau de incerteza, desde o plantio até a comercialização da produção agrícola”, explica Édson Bolfe, pesquisador da Embrapa e coautor do estudo.

    Como funciona a computação quântica?

    O coordenador do trabalho, o pesquisador Kleber Souza, explica que, diferentemente do que hoje se vê em funcionamento em automóveis, aparelhos celulares e computadores domésticos, os novos equipamentos utilizam propriedades da física quântica para realizar operações de armazenamento e processamento de informações e resolver problemas complexos. Tais máquinas têm potencial superior em termos de qualidade e velocidade de respostas ao testarem múltiplas possibilidades e variáveis ao mesmo tempo. Desse modo, vão além da alternativa binária (entre dois caminhos por vez) oferecida pelos computadores clássicos, incluindo os supercomputadores.

    Diferentemente dos computadores convencionais, que operam com bits binários (“0” ou “1”), os computadores quânticos utilizam qubits, que podem representar “0” e “1” simultaneamente. Essa característica, conhecida como superposição, permite que esses dispositivos processem múltiplas variáveis ao mesmo tempo, trazendo respostas mais rápidas e detalhadas para problemas complexos.

    Aplicações da computação quântica na agricultura

    Na prática, a computação quântica já se mostra promissora em diversas frentes. Em modelagem climática, ela será capaz de melhorar a precisão do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), sistema desenvolvido pela Embrapa e utilizado por gestores para elaborar políticas públicas e por instituições financeiras para embasar a concessão de créditos e cálculos de seguro agrícola.

    Na área de fitossanidade, as simulações feitas pela arquitetura quântica ajudarão a identificar precocemente doenças em culturas como soja e milho. O emprego de aprendizado de máquina já resultou em uma tecnologia de identificação precoce de doenças. A computação quântica pode potencializar essas operações.

    Na bioinformática, análises de dados genômicos podem ser altamente aceleradas com a computação quântica, beneficiando estudos de melhoramento genético. O estudo também aponta que, no futuro, a tecnologia poderá integrar sensores avançados e algoritmos de aprendizado de máquina, ampliando ainda mais sua aplicação no campo.

    Desafios e investimentos necessários

    Apesar do potencial promissor, o desenvolvimento de aplicações quânticas para o agro ainda enfrenta desafios. Um dos principais é o custo. Um computador quântico pode custar até 20 milhões de dólares, além de exigir infraestrutura avançada, como temperaturas de operação próximas do zero absoluto e ambientes altamente isolados.

    Mesmo assim, segundo Souza, o domínio da tecnologia quântica será estratégico para o Brasil. “A pesquisa e a educação [voltadas ao tema] são áreas em que o Brasil também terá de investir para garantir a soberania tecnológica e manter a competitividade do setor agropecuário brasileiro”, defende.

    Capacitação é chave para o avanço

    A Austrália avalia que em 2045 serão necessários 19,4 mil especialistas para suprir a demanda para atuação em computação quântica, relata Souza, ao destacar a pesquisa e a educação como áreas igualmente essenciais para o desenvolvimento dessa área no Brasil.

    Além de infraestrutura, o País precisa investir em formação de especialistas. De acordo com o artigo, países como Austrália e Alemanha já oferecem cursos de engenharia quântica, enquanto no Brasil, instituições começam a adotar programas voltados ao tema. Para Souza, computadores educacionais, acessíveis a partir de 500 dólares, podem ser uma porta de entrada para a capacitação de profissionais e testes iniciais de algoritmos. “Não se consegue fazer muito somente com eles, mas, associados aos serviços em nuvem, podem auxiliar as instituições a empreenderem um planejamento estratégico para incorporar a computação quântica”, avalia.

    Pensando nisso, o artigo apresenta um mapeamento dos serviços e simuladores de computação quântica em nuvem já disponíveis para testes de algoritmos ou até mesmo para a familiarização com essa nova forma de computação.

    Souza destaca que a ideia é aprofundar a pesquisa na vanguarda do conhecimento nesta área aplicada à agricultura digital. O artigo relata que algumas universidades já iniciaram o oferecimento de cursos em Engenharia Quântica. A Universidade Saarland, na Alemanha, iniciou seu curso de graduação em 2019; a Universidade de New South Wales, na Austrália, inaugurou um mestrado em 2021, e a Virginia Tech, nos EUA, em 2022, como um curso de especialização.

    Foto: Markus Spiske / Pexels.com

    Um olhar para o futuro

    Com simuladores de computação quântica em nuvem já disponíveis, o Brasil tem a oportunidade de acelerar sua entrada nesse campo. “Esses simuladores permitem que empresas e pesquisadores experimentem soluções antes mesmo de adquirir equipamentos físicos”, explica Bolfe.

    Os autores destacam que, mesmo com o potencial promissor da tecnologia quântica, o seu desenvolvimento continua sendo um desafio para a modelagem de processos biológicos na agricultura, uma vez que eles envolvem ampla gama de variáveis.

    Portanto, a evolução dessas aplicações em diferentes setores produtivos requer desenvolvimento computacional contínuo e treinamento de pessoal para o avanço científico e tecnológico.

    A computação quântica, embora ainda distante da maioria das propriedades rurais, promete ser uma aliada poderosa para enfrentar os desafios da agricultura moderna. Investir em pesquisa, desenvolvimento e capacitação não é apenas uma questão de inovação, mas de garantir que o País continue a ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo.

    Os números da computação quântica

    Escala – A nova tecnologia permite alterar a escala de problemas que é capaz de resolver e como a modelagem é realizada no sistema quântico. Ao invés de processar 10 mil possíveis interações de dados obtidos em campo (solo, planta e clima) em um computador tradicional em determinado tempo, no processamento quântico seria possível processar 100 mil interações nesse mesmo tempo.

    Qubits – Os três bilhões de pares de bases do genoma humano, que requerem 1,5 gigabytes em um computador convencional, podem ser armazenados em aproximadamente 34 qubits de um computador quântico. Duplicando-se a quantidade de qubits para 68, tem-se espaço suficiente para armazenar os genomas de toda a humanidade.

    Mercado – Um exemplo de investimento massivo é a parceria firmada em 2022 entre a Cleveland Clinic e a IBM para a instalação do sistema de computação quântica One. A parceria envolve recursos da ordem de 500 milhões de dólares nos próximos dez anos.  O foco de atuação será em patógenos emergentes e doenças relacionadas a vírus, encurtando pesquisas críticas em tratamentos e vacinas.