Dia Mundial da Alimentação: Brasil precisa de infraestrutura, tecnologia e conscientização para evitar perda de alimentos

por Rafael Gois*

Você já se perguntou como o Brasil pode superar desafios como a infraestrutura deficiente e desastres naturais, ao mesmo tempo em que promove um desenvolvimento econômico, social e ambiental equilibrado?

Uma pesquisa recente realizada pela Globo Rural, com 200 executivos entrevistados, mostrou que 41,5% apontaram a logística e a cadeia de distribuição como as principais preocupações da indústria de agronegócio. Esse dado revela a urgência de modernizar nossa infraestrutura e repensar nossos métodos para evitar grandes perdas de alimentos e melhorar a eficiência.

Segundo o relatório Índice de Desperdício de Alimentos 2024, da ONU, a cadeia de produção de alimentos mundial desperdiçou 1 bilhão de refeições por dia em 2022. No Brasil, a ineficiência dos transportes contribui significativamente para esse problema. Rodovias ruins, inexistência de ferrovias e portos congestionados dificultam o escoamento da produção agrícola e pecuária, resultando em desperdício e prejuízos.

Como podemos superar essas barreiras? A solução passa por investimentos maciços na modernização e expansão das redes de transporte existentes, com ênfase nos modais ferroviário e fluvial. Além disso, é fundamental aumentar a capacidade de armazenamento, especialmente para pequenos e médios agricultores. Sem manutenção adequada, muitas instalações enfrentam problemas como vazamentos e controle inadequado de temperatura, aumentando o desperdício.

A modernização das operações agrícolas é crucial. A adoção de tecnologias avançadas, como agricultura de precisão, uso de drones, inteligência artificial e sistemas de irrigação com eficiência energética de fontes limpas, pode aumentar a produtividade e reduzir o desperdício ao longo da cadeia produtiva. No entanto, isso não basta. Devemos também encontrar um equilíbrio entre os custos de produção e a lucratividade, adotando novas tecnologias e conhecimento técnico para aumentar a eficiência.

No aspecto social, o trabalho é mais de longo prazo. Além do fortalecimento das comunidades rurais, investimentos em educação e capacitação técnica, é necessário desenvolver linhas de crédito capazes de financiar máquinas, equipamentos e produção, que sejam capazes de gerir o ciclo inteiro. Isso garante a alocação do recurso no momento certo, protegendo tanto o pequeno produtor quanto o credor.

No campo ambiental, a adoção de práticas agrícolas sustentáveis é essencial. Essas práticas são vitais para o nosso futuro, e as soluções para alcançar a neutralidade de carbono são inúmeras. No entanto, para avançarmos de forma significativa, é crucial regularizar o mercado de crédito de carbono. A criação de um mercado regulado e auditado é fundamental para evitar fraudes, que infelizmente são comuns. Acredito que uma bolsa, como a de mercadorias e futuros, seja capaz de auditar e comercializar esses ativos com transparência, garantindo a integridade e eficácia do mercado de crédito de carbono.

Agora, gostaria de trazer um exemplo prático, que ilustra a importância de estarmos preparados para enfrentar desastres naturais e como isso se relaciona com o desenvolvimento sustentável. Recentemente, o estado do Rio Grande do Sul sofreu uma tragédia devastadora. Esse evento não apenas impactou milhares de vidas, mas também destacou a fragilidade de nossa infraestrutura e a necessidade de um plano de resposta rápida e coordenada.

Como podemos salvar vidas, reconstruir histórias e garantir a subsistência dos produtores locais em situações como essa? Investimentos em infraestrutura local de reconstrução, que priorizem as pessoas afetadas e garantam o escoamento eficiente da produção, são essenciais. Precisamos de uma abordagem que combine resiliência e sustentabilidade para que possamos enfrentar esses desafios de forma eficaz.

Por fim, é primordial unir esforços com governos e partes interessadas para financiar uma produção agrícola limpa e sustentável. Devemos trabalhar juntos para transformar o Brasil em um exemplo de desenvolvimento integrado, equilibrando as necessidades econômicas, sociais e ambientais, e garantindo um futuro próspero e resiliente para todos.

Sobre o Dia Mundial da Alimentação: Criado em 1981, em homenagem à fundação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Dia Mundial da Alimentação promove o debate sobre a segurança alimentar. A estimativa da ONU é que cerca de 780 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo. Esse debate inclui a garantia de que todas as pessoas tenham acesso a alimentos nutritivos e de qualidade, em quantidades suficientes, abordando questões desnutrição e sistemas de produção alimentar mais resilientes, dado o cenário da mudança climática.

*CEO do Grupo Fictor, holding de participação e investimentos especializada na gestão de empresas no mercado de private equity e que atua nos setores de alimentos, serviços financeiros, desenvolvimento imobiliário e energia.

O poder do algodão na América Latina

O cultivo do algodão é parte da identidade da América Latina. Indígenas do povo Pijao, na Colômbia, têm a fibra no DNA. A agricultora Elisa Pietro, por exemplo, conta que o algodão abre caminho para que mulheres consigam sustentar suas famílias. “A produção nos permite ter liderança e ganhar dinheiro”, ensina Elisa. 

Em grandes cidades, colombianas que trabalham em confecções também colhem os frutos do cultivo. “Graças ao algodão, podemos levar nossos filhos e nossas famílias em frente”, diz a operária Zoraida Cárdenas. 

O programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, viajou das áreas desérticas ao litoral da Colômbia para mostrar como funciona o projeto que busca fortalecer a cadeia do produto na América Latina.

Projeto + Algodão

A terra natal da Zoraida e da Elisa é um dos principais pólos do programa que tenta fortalecer a cadeia produtiva na região. Liderado pelo Brasil, por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Itamaraty, e em parceria com a Embrapa e a Empaer-PB, o “Projeto + Algodão” envolve sete países – Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru – e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). 

Conhecido como “ouro branco”, o algodão – cujo dia mundial é celebrado em 7 de outubro – gera renda e emprego principalmente nas pequenas propriedades. “A maioria das pessoas que fazem parte do projeto de cooperação são agricultores familiares”, afirma o diretor de Assistência Técnica da Empaer-PB (Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária), Jefferson Morais.

Por meio desse programa, populações vulneráveis recebem sementes e fios de graça, mulheres estão sendo preparadas para empreender e técnicas que respeitam o meio ambiente têm sido compartilhadas. Uma das dúvidas mais comuns é estimular o cultivo nos países vizinhos, em vez de aplicar todos os recursos em solo brasileiro.

“A extensão da produção para outros países, que têm outros climas e outras situações geográficas, pode, se nós enfrentarmos uma dificuldade, equilibrar o mercado brasileiro”, explica o embaixador do Brasil na Colômbia, Paulo Estivallet de Mesquita. O embaixador também se recorda que o Brasil “superou uma crise terrível nos anos 1980 e 1990 para se tornar o maior exportador mundial do produto”.

Ranking 

O Brasil é o maior produtor de algodão sustentável e o terceiro maior produtor de algodão tradicional. Só China e Índia têm mais cultivo. Os dados são da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão e da Textile Exchange, uma organização internacional sem fins lucrativos que tem foco na sustentabilidade. 

Sabor brasileiro faz sucesso no Oriente Médio: exportações de chocolate disparam

الشوكولاتة البرازيلية تجد سوقاً في الدول العربية. وزادت صادرات المنتج بنسبة 4.39% هذا العام، حيث سجل العراق، ثالث أكبر سوق في الجامعة العربية، زيادة في الطلب.

As exportações de chocolate brasileiro para a Liga Árabe avançaram 4,39% no acumulado de janeiro a agosto deste ano sobre o mesmo período do ano anterior, segundo informa a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

As vendas do período subiram para US$ 16,06 milhões, mesmo com o recuo nos volumes embarcados de 4,54%, para 4,43 mil toneladas. O preço médio por tonelada também teve alta de 9,35%, negociado na média a US$ 3.623,84. O valor considera os dados de receita e volumes exportados para os 22 países da Liga Árabe.

A entidade destaca ainda que a demanda do Iraque, o terceiro maior comprador do chocolate brasileiro entre os 22 países da Liga Árabe, cresceu 101%, totalizando no período 395 toneladas, logo atrás dos Emirados Árabes Unidos, que adquiriram 475 toneladas, com recuo de 4,09%, e da Arábia Saudita, mercado que absorveu 2,36 mil toneladas de chocolate brasileiro, com pequena queda de 2,43% sobre o volume do período anterior.

“Importante destacar que 97% do que o Brasil exporta para a Liga Árabe são preparações de cacau recheadas, barras, tabletes e paus, que se caracterizam como produto de valor agregado. O chocolate brasileiro é destinado ao mercado interno e a processos de reexportação, principalmente a partir dos países do Golfo, que atuam como hub de revenda de todo tipo de mercadoria”, diz Marcus Vinicius, gerente de inteligência de mercado da Câmara Árabe.

Vinicius pontua que o fato de os países do golfo atuarem como hub de exportação pode ser uma vantagem importante para marcas que desejam se internacionalizar na região. O executivo também chama a atenção para o fato de o Brasil, apesar do recente avanço, ainda ocupar um espaço bastante modesto nos mercados árabes.

Foto: Jayme Vasconcellos / Agricultura e Negócios

No caso dos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, país que adquiriu US$ 1,64 milhão em chocolate brasileiro no acumulado de janeiro a agosto, a nação do Golfo importa por ano cerca de US$ 460 milhões em chocolates, que vem, inclusive, de países sem tradição no cultivo da amêndoa, como Turquia, Holanda, Itália e Egito, principalmente.

O gerente de inteligência de mercado pontua ainda que os importadores árabes seguem atuando para conter a alta dos preços do cacau, mantendo as variações ao menos dos ‘contratos de porto’ na casa dos 10%, bem abaixo da variação internacional da commodity registrada ao longo do ano, entre 40 e 50%.

Desde janeiro, os futuros de cacau da bolsa CBOT, de Chicago, quase dobraram em valor, sendo cotados hoje acima dos US$ 7 mil a tonelada. Na bolsa de Londres, a valorização dos contratos no acumulado do ano chegou a bater 47%.

Esse aumento nos preços do chocolate decorre de perdas por pragas e problemas climáticos que afetaram até 20% das safras da Costa do Marfim e Gana, países que respondem por 56% da produção mundial da amêndoa.

A perspectiva das entidades do setor cacaueiro é que o mundo enfrente nos próximos anos um déficit na oferta de cacau, que pode, inclusive, demorar para ser regularizado.

Florestas plantadas: a solução verde para o futuro

por Jayme Vasconcellos*

– com informações da Semadesc/MS e da Seapa/GO

Em meio aos desafios globais como as mudanças climáticas e a crescente demanda por recursos naturais, as florestas plantadas despontam como uma solução promissora e sustentável. Ao combinar desenvolvimento econômico e preservação ambiental, o setor demonstra potencial para moldar um futuro mais verde e próspero.

De acordo com a pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área de florestas plantadas no Brasil alcançou 9,7 milhões de hectares em 2023, o que representa alta de 2,5%, cerca de 238 mil hectares em comparação ao ano anterior. Do total produzido pela silvicultura, 7,6 milhões de hectares são de eucalipto, utilizado majoritariamente na indústria de papel e celulose.

E os números falam por si só. O setor florestal brasileiro gera milhões de empregos, contribui para as exportações e arrecada bilhões de reais em impostos. O Brasil é o maior exportador mundial de celulose. Em 2023, 19,1 milhões de toneladas foram exportadas e os principais destinos foram China, Estados Unidos, Países Baixos e Itália. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que a celulose ocupou o décimo lugar no ranking das exportações totais do Brasil no ano passado. “O agronegócio brasileiro gerou R$ 933 bilhões em exportações em 2023, e o setor de produtos florestais faturou R$ 80 bilhões”, revela Edilson Batista de Oliveira, pesquisador da Embrapa Florestas.

Destaques nacionais

Segundo o IBGE, Minas Gerais tem a maior área coberta com espécies florestais plantadas do país, com 2,1 milhões de hectares, um aumento de 1,7% em relação ao ano de 2022. Desse total, 97,4% é ocupado por eucalipto.

Já Mato Grosso do Sul aumentou sua área com silvicultura em 15,2%, ocupando a segunda colocação no ranking de maior área de florestas plantadas, com 1,4 milhão de hectares (98% sendo de plantio de eucalipto). E os quatro maiores municípios brasileiros em termos de área de florestas plantadas estão no estado:

1º Ribas do Rio Pardo: 420,5 hectares

2º Três Lagoas: 311,9 hectares

3º Água Clara: 163,1 hectares

4º Brasilândia: 150 mil hectares

“Esses municípios são os principais polos de produção de eucalipto no estado, atraindo investimentos nacionais e internacionais para a instalação de grandes indústrias de celulose e papel, como a Suzano, Eldorado Brasil, Bracell e Arauco”, destaca Jaime Verruck, secretário da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Completando o pódio dos estados, está São Paulo, que registrou 1,2 milhão de hectares, um crescimento de apenas 0,1%, o que ocasionou a perda da segunda posição para Mato Grosso do Sul.

Foto: Licia Rubinstein / Agência IBGE Notícias

Sustentabilidade e inovação

Um dos pilares do sucesso das florestas plantadas é o compromisso com a sustentabilidade. Por meio de práticas de manejo florestal responsáveis, as empresas do setor contribuem para a conservação da biodiversidade, a proteção dos recursos hídricos e a mitigação das mudanças climáticas. “Nossas florestas são verdadeiros sumidouros de carbono, ajudando a combater o aquecimento global”, afirma Zaid Ahmad Nasser, empresário do ramo florestal e ex-presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Floresta (APRE).

A inovação é outro ponto forte do setor. Através de pesquisas científicas e o desenvolvimento de novas tecnologias, as empresas florestais buscam otimizar a produção, reduzir os impactos ambientais e aumentar a eficiência. “A silvicultura de precisão, por exemplo, permite um manejo mais eficiente das florestas, maximizando a produtividade e minimizando os custos”, explica Oliveira.

Visão compartilhada pelo secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás. “Estamos investindo em práticas que promovem o equilíbrio entre a produção e a preservação, garantindo um futuro próspero para nossos agricultores e para o meio ambiente”, afirma Pedro Leonardo Rezende.

Impacto social e desenvolvimento regional

Além dos benefícios econômicos e ambientais, as florestas plantadas também geram um impacto social positivo. As comunidades locais são beneficiadas com a geração de empregos, a melhoria da infraestrutura e o desenvolvimento de atividades sociais. “As florestas plantadas contribuem para a fixação das pessoas no campo e para o desenvolvimento de regiões antes consideradas isoladas”, ressalta Nasser.

A qualificação da mão-de-obra é um dos desafios do governo de Mato Grosso do Sul, por exemplo. Atualmente, o setor florestal detém 15 mil empregos diretos e 12 mil indiretos na região. Para capacitar as equipes, o Sistema S tem trabalhado na oferta de cursos profissionalizantes. “Temos projetos gigantescos e vivemos uma escala de crescimento que depois acaba se estabilizando. Temos a segunda maior área do eucalipto do Brasil, e esse setor tem uma participação de 17,8 % no nosso PIB.”, conclui o secretário Verruck.

O futuro é verde

Em um mundo cada vez mais urbanizado e industrializado, as florestas plantadas representam uma alternativa promissora para um futuro mais sustentável. Ao combinar desenvolvimento econômico, preservação ambiental e responsabilidade social, esse setor demonstra que é possível conciliar crescimento e bem-estar planetário.

*Jornalista, técnico em agronegócio e editor-chefe do Agricultura e Negócios.